Nem todo mundo sabe que a Praia do Futuro fica no Ceará e existe mesmo, fica relativamente perto de Fortaleza e foi criada artificialmente (como o aterro do Rio) para ser um bairro elegante da cidade, com uma praia mais bonita (as melhores da região ficam muito distantes), embora hoje em dia tenham sido prejudicadas pela presença de favelas próximas e pela violência. E também pelo mar bravio, o que explica a necessária presença de salva vidas (ou guarda vidas como costumam dizer no Nordeste). Disso tudo partiu a inspiração para o diretor cearense Karim (famoso por Madame Satã, nunca vi o outro longa dele muito elogiado, O Abismo Prateado) realizar este filme misturando também sua experiência na Alemanha (tem vivido em Berlim há algum tempo).
Foi uma decisão corajosa como ator e campeão de bilheteria do astro Wagner Moura aceitar este papel que foge aos anteriores. Vai causar alguma polêmica, mas também ajudar na luta contra a homofobia, já que há algumas cenas fortes (nada explícito, porém sugestivas e como se sabe, as pessoas escondem mas são muito preconceituosas. Até os brasileiros). Ele faz o salva vidas Donato que trabalha ali na praia e logo no começo do filme tenta salvar um banhista estrangeiro que esta morrendo afogado. Apesar de lutar muito, a vítima está em pânico e dificulta o resgate, acaba morrendo. Donato fica desolado assim como o companheiro dele, um alemão que fala português chamado Konrad (Schick, que esteve em filmes famosos como Círculo de Fogo, Cassino Royale, Largo Winch II, num total de 51 créditos).
Pior ainda quando o corpo não aparece. Mas os dois iniciam uma relação sexual. O filme então dá um salto e os dois já estão na Alemanha, onde Donato luta conta o frio e uma sociedade diferente (não se aborda, porém questão de papéis ou emigração!). Experimentam viver juntos, mas há altos e baixos. O filme prossegue tão frio quanto a paisagem enquanto o diretor prefere perseguir personagens, evitar muitos diálogos ou explicações e estende seu gosto pelos planos fechados . Chega mesmo a ficar um pouco distanciado demais.
Felizmente há um terceiro capitulo que começa sem explicações falando de um fantasma que fala alemão mostrando um rapaz bem jovem que perambula pela cidade em busca do não se sabe o que. Mas há uma finalidade nisso e o curioso é que o próprio filme fica mais bonito, com imagens mais estéticas enquanto se caminha para uma solução interessante e humana (ainda que prolongada). Sem duvida é um filme para público de arte, mas ainda assim me pareceu o mais acessível e bem resolvido do diretor. Mas que não terá recordes de público.