Suas seis indicações ao Oscar® denotam sua qualidade e admiração da Academia. Mas não me parece que este filme novo do bissexto Alexander Payne (Sideways, As Confissões de Schmidt, Os Descendentes) tenha muita chance de ganhar. Foi indicado como diretor, ator (o veterano Dern atualmente com 76 anos), filme, atriz coadjuvante (June Squibb, nascida em 1929, fez antes Confissões de Schmidt com o mesmo diretor), fotografia e roteiro (um certo Charles Nelson e não do diretor. Este não tinha feito até então nada importante).
Para começar há um problema comercial: o filme é em preto e branco. Embora eu ache a fotografia excepcional e adequada, há uma rejeição por parte dos mais jovens que não foram criados com este sistema e não percebem que a textura e estilização. O mundo já é colorido, o preto e branco dá uma visão única e por estranho que pareça mais realista do que seria justamente uma outra realidade. Como o diretor insistiu em rodar em digital mas com lente anamórfica e havia o precedente de O Artista (que era mudo ainda por cima), ganhou o beneficio da dúvida. Payne afirma que existe uma versão colorida, mas que não tem intenção de distribuí-la.
Não vejo muita chance de Bruce Dern ser premiado (embora tenha ganhado melhor ator no Festival de Cannes). Pai da Laura Dern (excelente atriz que o estaá pajeando neste temporada de prêmios, com a atriz Diane Ladd), ele foi indicado uma única vez antes por Amargo Regresso (Coming Home, 78) assim mesmo como coadjuvante.E é isso que ele basicamente tem sido numa carreira de 144 créditos pouco memoráveis (o outro seria o cult Corrida Silenciosa/Silent Running).
De qualquer forma, Payne é do estado de Nebraska e mais uma vez resolveu filmar lá (como em Schmidt e Eleição, além do primeiro Ruth em Questão, que foi estrelado por Laura) para contar uma historia que lembra um pouco aquele trabalho de David Lynch, Uma História Real, 99, em que um velho viajava pelo interior de tratorzinho para fazer as pazes com um irmão. Aqui, Bruce empreende outra viagem porque cismou que ganhou um prêmio num concurso. Embora o filho (o comediante Will Forte, acertando em papel dramático) saiba que é uma vigarice e que o pai esta meio demente, resolve topar a viagem de Billings, Montana, até Nebraska, em busca do imaginário prêmio de Mega Seepstakes de um milhão de dólares.
A viagem é feita com um velho carro, com os problemas de costume, mas também é um reencontro com velhos parentes, velhas paisagens, contas a acertar, situações que já estavam esquecidas. Tudo mostrado de forma discreta, com poucas palavras, muito ajudado pela presença notável de June Squibb como a esposa, uma delícia de veracidade e humor (ela esteve também em Schmidt como esposa de Jack Nicholson). Um pouco melancólico, até poético, que tem seu ponto alto quando chegam a Hawthorne e encontram a família. Qualquer um que já viajou para o interior em situação semelhante vai se identificar muito. Embora com momentos divertidos, não é exatamente uma comédia. Quase uma viagem ao passado. Mas sem dúvida encantadora e tocante.