Crítica sobre o filme "Lobo de Wall Street, O":

Rubens Ewald Filho
Lobo de Wall Street, O Por Rubens Ewald Filho
| Data: 08/02/2014

Neste ano está difícil fazer previsões para os vencedores do Oscar®, o que é sempre uma coisa boa. Não há um favorito, até porque os principais lançamentos se dividiram entre os prêmios anteriores, assim como os próprios atores. Houve até a surpresa de deixarem Tom Hanks de fora (na verdade, eu tinha ficado espantado com o tamanho da campanha/ lobby para ser indicado por dois filmes, o Capitão Phillips - que ficou desmoralizado nos EUA por aqui o assunto não chegou a ser explorado, quando a tripulação do navio deu entrevista dizendo que o livro é mentiroso e que o Capitão inventou um monte de coisa!). O outro é o ainda inédito aqui Walt nos Bastidores de Mary Poppins (não é titulo, isso é legenda e certamente o pior que eu já vi em toda a vida! Quem sabe hoje em dia quem foi Walt? Disney claro que sim, mas Walt? Bastidores seria Making of? E Mary Poppins faz pensar que se trata de musical. De qualquer forma, Hanks não convence como Disney. Mas o problema não é esse. O fato é que Hanks envelheceu e perdeu o tipo. Era querido por ser jovial, simpático, ingênuo. Ficou com cara de tio da gente. Sua interpretação em Capitão é bastante boa – embora as cenas finais dele, a tortura e o papo com a médica tenham sido por demais esticadas! Explicado isso, vamos adiante.

Os filmes do Oscar® estão tendo pré-estreias oficiais antes de abrirem oficialmente, e o mais polêmico é o novo trabalho de Martin Scorsese, que tem um problema óbvio: três horas de duração. E todo mundo que eu conheço reclamou disso. Foi também a razão do porquê não deu para terminar a montagem a tempo (que foi  feita as pressas e chegou ate a ser adiado) e ainda hoje ela tem imperfeições. Também quando foi apresentada na Academia provocou reações violentas entre os mais velhos, que ficaram chocados com as cenas repetidas de nudez (e uma sequencia gay por sinal muito falsa, posada, provocou  cortes ou proibição no Oriente). Há certa razão ao reclamar porque acho que, levado pelo entusiasmo do produtor Leonardo DiCaprio (hoje com a fama de sedutora de modelos), em vez de fazer uma fábula sobre a ascensão e queda dos corretores da Bolsa nos anos 80 mostrando o lado bom e mal,  preferiram se fixar no que o americano chamado de  “Debauchery”  (que não é o nosso deboche, mas Devassidão, o comportamento Devasso, sem qualquer escrúpulos no uso de drogas e abuso do sexo).

Se classificando como comédia, O Lobo é o filme mais atrevido sexualmente do diretor, em que ele se compraz com cenas de sexo e modera a violência habitual, já que não são bem gângsteres (não verdadeiramente ousadas, mas dentro da cartilha americana de não poder mostrar muita coisa, com gente posando - lembra os antigos “tableaux vivants” da revistas de teatro, onde para burlar a censura não deixavam  ninguém se mover!). Em vez de humanizar os personagens faz com que todos eles - e praticamente sem exceção - sejam crianças-grandes totalmente irresponsáveis.  No consumo desenfreado de drogas (o sexo vem em segundo lugar e como deixam claro muito mal realizado, sem prazer para os envolvidos).

É curioso como o Lobo, aliás, como  toda a maioria dos indicados do ano, são baseados ou ao menos inspirados em fatos reais. Não magnatas das finanças, como os que provocaram a atual recessão, mas exploradores de classe média, que roubaram e enganaram os mais ingênuos (e por isso minha relutância em ver uma celebração do vigarista, do corrupto, até porque o castigo não vem a cavalo nem na medida certa).

DiCaprio está enérgico e carismático no papel de Jordan Belfort, que escreveu o livro original e Terence Winter (criador da Família Soprano e Boardwalk Empire), que o roteirizou como uma grande farsa, um grande apronto. Por isso que me pareceu que Scorsese ficou fascinado pelo pecado (ele é católico ainda) e devassidão, sem que isso o impeça de ter momentos divertidos e criativos (como quando DiCaprio bate no seu carro com o filho a bordo) e mantenha sua habitual mão para escolher elenco. Minha favorita é a australiana Margot Robbie, que faz a mulher de DiCaprio e que eu tinha notado antes no recente Questão de Tempo (era de “parar o trânsito”, como se dizia, como a primeira namoradinha do herói). Esta loira esplendida além de tudo é boa atriz e promete virar estrela. Mas não é só, quem aparece no começo do filme numa ponta marcante e que pode criar escola (com o bater no peito) é Matthew McConaughey, demonstrando que este é mesmo seu ano! Jonah Hill acabou se tornando um ator característico criador de tipos fortes ainda que sem qualquer caráter assim como vários diretores aparecem  como atores (Jon Favreau, Rob Reiner), assim como o famigerado Jean Dujardin (como era esperado, se repetindo).

Não posso negar, porém, que o público, em especial o masculino, se diverte com o filme,  rindo muito e o tornando um êxito de bilheteria (91 milhões de dólares apenas nos EUA para um orçamento de 100). Mas não acredito que a Academia embarque nesta.