Crítica sobre o filme "Origem dos Guardiões, A":

Rubens Ewald Filho
Origem dos Guardiões, A Por Rubens Ewald Filho
| Data: 03/04/2013

Não gosto nada do título do filme, que não é atraente nem sugestivo, parece subtítulo de uma série qualquer de ficção cientifica, não para crianças. Depois me assustei com o fracasso do filme nos Estados Unidos (claro que é preciso levar em conta o êxito excepcional de dois filmes que estrearam ao mesmo tempo, o James Bond e o capítulo final do Crepúsculo). Até 23 de novembro ele não tinha rendido mais de 32 milhões de dólares quantia insignificante para uma animação da bem-sucedida Dreamworks em 3D que custou 145 milhões! Houve muita polêmica por que isso sucedeu. O filme tem um outro charme para o fã de cinema, já que foi coproduzido pelo diretor Cult Guillermo del Toro (Hellboy, Labirinto do Fauno) que lhe deu um acabamento requintado (como a trilha musical de Alexandre Desplat).

O Hollywood Reporter levantou várias hipóteses:

1) Todos acham que não tem nada a ver com o fato de que a Dreamworks encerrou seu contrato de distribuição com a Paramount e a partir do próximo, The Croods, já será da Fox.

2) Foi o primeiro desenho distribuído pela Dreamworks que estreou  no Feriado de Ação de Graças, que é muito competitivo e todos viajam para estar com a família. Sem esquecer da Black Friday e o adiantamento das compras de Natal. Cinema não é a prioridade. Outra coisa, ainda que baseado em livros de William Joyce não era um título/produto superfamoso.

3) Houve muitas reclamações dos pais que não gostaram do sotaque que deram para Papai Noel, no original por Alec Baldwin, mas também na versão brasileira. É um sotaque do Norte do Hemisfério, que muitos acham que é russo.

4) A campanha de marketing do filme foi endereçada para crianças pequenas e seus pais. Embora ele tenha um visual muito bonito e tenha muita aventura também para os mais velhos.

5) Os trailers foram confusos e não deixavam claro do que se tratava, principalmente na figura do vilão Pitch (aqui Bicho Papão), com voz de Jude Law.

6) Muitos acham que as celebridades que fizeram as vozes não ajudaram o filme, embora Chris Pine e Hugh Jackman tenham viajado promovendo o desenho (o que é bem inútil já que na maior parte dos lugares ele passa apenas dublado na língua local, como no Brasil).

7) O filme não agradou especialmente os críticos americanos (dando 77 por cento de positivo no Rotten Tomatoes, bem menos do que outros concorrentes do ano). Não é provável que chegue a 100 milhões ou fique entre os cinco finalistas da categoria animação. Mas eu acho injusto. Se americano não entendeu, o problema é dele, porque a criança brasileira terá mais problemas simplesmente porque eles são tão autocentrados que colocaram personagens que fazem parte da fantasia/mitologia deles e não necessariamente do resto do mundo.

Assim o grande herói do filme é o chamado Jack Frost (normalmente ele é visto como um boneco de gelo, mas aqui virou um rapaz bonitinho e rebelde que tem a missão de salvar o mundo com seu bastão). Ele seria a figura fantástica encarregada de provocar geadas, ventos e tombos repentinos.

Também não se conhece direito a fada dos dentes (aqui seria o homem do saco ou coisa que o valha que viria recolher o dente que fica debaixo do travesseiro), ou menos ainda o Sandman (o sujeito que joga areia nos olhos das pessoas para dar sono, mais lembrado por aquela canção Mr. Sandman, bring me a dream...!). Mas certamente sabem quem é Papai Noel e o Coelho da Páscoa (embora ambos estejam aqui fortes, altos e vitaminados).

O vilão que tem o visual mais forte, parecendo pintura surrealista, é o Pitch, que traz os pesadelos para as crianças. De uma certa maneira, a trama lembra os Avengers/Vingadores, já que um grupo de heróis se une para salvar o mundo de ficar na mão do rei dos pesadelos que iriam perseguir todas as crianças. Mas para eles terem forças, é preciso que essas crianças acreditem neles. É isso que daria força para vencer o mal. Ao mesmo tempo, o Jack Frost tenta desvendar o segredo de seu passado (recorrendo a outra entidade falada, mas não vista, que é O Homem na Lua!).

Será complexo demais para crianças? Não acredito, porque o visual é tão bonito, tão bem concebido, que é muito fácil embarcar na aventura. Se não conhecem as figuras míticas, passam a conhecer e pronto. Acredito que não só as crianças, mas mesmo os adultos de cabeça mais aberta e mais fantasiosos irão embarcar no projeto. Eu me rendi e gostei muito da animação, num ano fraco achei dos melhores.