Crítica sobre o filme "Na Estrada":

Rubens Ewald Filho
Na Estrada Por Rubens Ewald Filho
| Data: 11/07/2012

Difícil dar certo uma adaptação de um clássico da literatura, ainda mais um Cult como este livro de Jack Kerouac, que apesar de ter sido transposto para o cinema de diversas formas (vários documentários, alguns filmes pequenos e o biográfico chamado Os Beatniks, 1980, com Sissy Spacek, Nick Nolte e John Heard como Kerouac). Por isso o brasileiro Walter Salles se cobriu de todos os cuidados para este projeto (que tem entre seus produtores Francis Ford Coppola, que apesar dos reveses ainda mantém certo prestigio e já tem os direitos de filmagem desde 1978. Muitos cineastas e até Marlon Brando tentaram resolver o projeto, mas o livro ficou com fama de ser infilmável). Waltinho se preparou com intensidade. Não apenas reuniu novamente a mesma equipe de outro Road movie que fez (o apenas razoável Diários de Motocicleta), incluindo o roteirista Jose Rivera, portorriquenho que escreveu Diários de Motocicletas, Cartas para Julieta. Como se deu ao trabalho de documentar em filme todo o caminho descrito pelo filme (o material não teria sido editado, mas seria um bom companheiro complementar a este filme. Uma oportunidade perdida).

A figura central é Sal (ou seja, Kerouac), vivido pelo inglês Sam Riley (de Control e O Pior dos Pecados, que todo mundo insiste em elogiar. Não me convence nem como tipo nem como ator). Um jovem franco-canadense que vive com a família no Queens, bairro de Nova York e sonha em ser escritor. A ação começa em 1947, ele perdeu o pai faz pouco e pouco depois do funeral encontra o alto, loiro e bonito Dean Moriarty (o irregular Garret, de Tron), que corre atrás de mulheres, fuma maconha e rouba carros (e por quem Sal tem uma mal resolvida atração homossexual, até para acentuar isso sua primeira aparição já é sem roupa). Está também sempre ao lado de sua jovem mulher (Kristen Stewart resulta tão apagada que não deixa nem espaço para se falar mal dela como hábito, ela se mistura com a paisagem e até se esquece que está no filme) e de um poeta Carlo Marx (Sturridge de Adorável Julia).

Não demora muito eles já estão viajando para o Oeste, pegando carona até Denver, e se juntam uma nova esposa (Kirsten, que mal dá sinal da boa atriz de Melancolia), eventualmente fazendo sexo a três com Sal (não se dá muito detalhes do que sucede na cama e não se explora muito esse lado homoerótico). Talvez a melhor sequência seja a que eles visitam um poeta drogado Old Bull inspirado em William Burroughs que vive numa antiga casa sulista. Como sempre Viggo Mortensen exagera no tom, mas Amy Adams é interessante como sua mulher e toda a ambientação ao menos acena com o que o filme poderia ter sido.

O resto da viagem e da historia é resumido para não ser acusado de deixar nada de fora com ações em San Francisco, Nova York e México. A trilha musical jazzistica me parece a coisa mais apropriada ao filme, mas a narrativa tradicional não consegue passar a fúria e  a importância daquela trupe que teria enorme influência nos jovens americanos dos anos seguintes.

Torcia muito para que o filme fosse a obra-prima que o Waltinho está merecendo e que tivesse sido melhor recebido em Cannes (ainda não estreou nos EUA onde foi comprador pelo IFC Sundance). Mas infelizmente...