Crítica sobre o filme "Oz: Mágico e Poderoso":

Rubens Ewald Filho
Oz: Mágico e Poderoso Por Rubens Ewald Filho
| Data: 03/03/2013

Ainda me lembro quando era bem criança e meus pais me deram de presente o livro do Mágico de Oz. Foi meu primeiro choque ao descobrir que o texto tinha muito pouco a ver com o filme, que eu naturalmente já tinha assistido. Primeiro de muitos. Só que neste caso toma dimensões maiores, porque o livro original de Mr. Baum 1856-1919 (teve até telefilme sobre ele, vivido por John Ritter). E as primeiras adaptações já começam em 1910-12. Naturalmente a versão mais famosa é O Mágico de Oz (The Wizard of Oz, 39 , da MGM, cujo acervo hoje pertence a Warner, com Judy Garland, Jack Haley, Frank Morgan (como o mágico), Ray Bolger, certamente um dos filmes que mais fazem parte integral da cultura americana (com inúmeras frases e situações, canções e mitologia, e que foi ressuscitada recentemente pelo show musical Wicked (que conta uma historia inspirada nele, mas ao inverso). Já assisti três vezes em lugares diferentes do mundo mas é um dos poucos espetáculos do gênero que não foi montado aqui. É um sucesso espetacular não apenas na Broadway mas em toda parte. Neste momento esta em cartaz em São Paulo a montagem oficial baseada no longa metragem, feito com o cuidado e capricho e talento habitual do dupla Moeller e Botelho.

Acontece que há muitos anos atrás a Disney comprou os direitos da obra integral de Baum, só que excetuando o que foi inventado para o filme (que é muita coisa) e já tentaram uma adaptação antes (que foi Regresso ao Mundo Fantástico de Oz/Return to Oz, 85, o único longa dirigido pelo grande técnico de som Walter Murch, estrelado pela menina Fairuza Balk). Pena que o filme era dark, pesado e nada tinha a ver com o Clássico. Nem em espírito. Só sei que a Disney não quis arriscar de novo ate agora quando resolveu apostar por volta de 200 milhões de dólares na brincadeira. Que pode ser muito arriscada.

Porque este filme é uma espécie de prólogo do que viria depois (não tem Dorothy, nem Totó, nem os três amigos). Ou seja, a semelhança é vaga mas ainda assim arriscada (por exemplo, como no filme original começa em preto e branco e depois muda para cores, mas só cerca de 15 minutos após o começo e em formato de tela antiga, quase quadrada. Nas locadoras havia muita gente que devolvia o Mágico de Oz porque ficava frustrado porque achava que era tudo em preto e branco e não tinha paciência de assistir tudo. Santa burrice. Meu Deus do céu. Não chega ao cumulo porém de terminar nem PB como o clássico e não usa a mensagem hoje meio ridícula (de “não há lugar como o lar”). Poucos atores repetem personagens, apenas Michelle Williams que faz o interesse romântico no parque de diversões e depois a bruxa branca a Glinda (e num esforço, Zach Braff aquele da serie de teve Scrubs também faz depois a voz do macaquinho Finley).

Na verdade, para apreciar o filme é preciso tomar atitudes importantes: 1) esquecer do original o máximo possível e tentar apreciar este como uma nova historia, com vagas referencias a estrada de tijolos amarelos e assim por diante. 2) se possível assista numa boa sala, de preferência Imax, que faz a diferença. O visual é elaborado e bonito, ate requintado, assim como o som e a trilha (de Danny Elfman, dos filmes de Tim Burton. Alias por vezes lembra um pouco Alice no Pais das Maravilhas dele). Outra coisa, os efeitos em 3D são constantemente explorados). 3) Tente também esquecer a má vontade que temos com o James Franco (ao menos desde aquele patético serviço no Oscar). Ele é um cara de pau, mas aqui ao menos se não senti sinceridade isso não é grave porque faz um vigarista. E ao menos as caretas são adequadas. Não consegue derrubar o filme (deve estar muito chateado por isso).

A minha tendência é creditar a apreciação do filme ao diretor Sam Raimi, que é um hábil realizador, cultuado por seus trabalhos em horror (como o clássico Evil Dead e a fidelidade ao amigo, desde o começo da carreira, Bruce Campbell, que faz o guarda que tenta impedi-los de entrar no portão). Acertou também na trilogia bastante decente do Homem Aranha e agora enfrentou um enorme desafio que achou que venceu. O filme funciona por dois motivos básicos: a boa escolha de figuras coadjuvantes, como a menina de porcelana (que parece que não tinha em outras fontes, foi criada especialmente para aqui e vai vender muita boneca!), o querido Finley (sempre fiel) e todos os que cercam o personagem (por outro lado, os macacos voadores da Bruxa estão ate discretos, menos visíveis do que no original e no Wicked).

A outra coisa de que gostei são as mulheres. Michelle sempre uma boa atriz com um papel ingratíssimo (nada pior numa tela do que ser boazinha, passar bons sentimentos e ela consegue). Mas quem rouba naturalmente são as vilãs, justamente irmãs na historia, Mila Kunis (como Teodora) e Rachel Weiz (que não cai nunca na caricatura, nunca esteve tão bonita e brilha como Evanora). As duas seguram o filme que tem também uma boa conclusão, fazendo a louvação da magia do cinema e sua origem nunca negada nos parques de diversão do interior, onde o feitiço da magia se misturava com o vigarista.

Será que vai ser sucesso? Nos Estados Unidos, tem havido este ano uma serie de fracassos e decepções (mais recentemente Jack e o Pé de Feijão) e será preciso que o bom trailer tenha criado uma expectativa. Não seria legal para a Disney embarcar noutro fracasso depois de John Carter - Entre Dois Mundos.