Crítica sobre o filme "Dezesseis Luas":

Rubens Ewald Filho
Dezesseis Luas Por Rubens Ewald Filho
| Data: 01/03/2013

Quem ainda não se deu conta é bom ser informado que este é o filme que pretendia tomar o lugar, por assim dizer, da Saga Crepúsculo. São três livros (no caso como sempre o ultimo mais longo será dividido em dois filmes) já disponíveis no Brasil e com certo êxito, indicado para aquele publico chamado de “Young adult” que gosta de consumir historias românticas misturadas a fantasia e ocultismo e que foi escrito por uma dupla de mulheres. É importante chamar a atenção para o maior diferencial que traz: o senso de humor. Todo o filme é pontilhado (ou apimentado se preferirem) por piadinhas e brincadeiras muito divertidas e oportunas. Que demonstram que não se levam tão a serio quando a Saga anterior.

De qualquer forma, esse projeto tão ambicioso deu errado. Já que o filme simplesmente foi um imenso fracasso nos Estados Unidos e as chances de pegar por aqui são as menores possíveis. Com orçamento de 60 milhões de dólares não rendeu mais do que 17 ate o fim desta semana! Um desastre (escrevemos a critica abaixo antes de saber disso! Mas dou algumas explicações).

Richard LaGravanese é menos lembrado como diretor do que roteirista, tendo a seu crédito alguns filmes conhecidos se não memoráveis: Água para Elefantes, P.S.Eu te Amo (também dirigiu), Escritores da Liberdade (dirigiu), episódio Pigalle, de Paris eu Te Amo (Idem, diretor), Bem Amada, Living Out LoudO Encantador de Cavalos, O Espelho tem duas Faces, As Pontes de Madison, Meus Tios Heróis, A Princesiha, O Arbitro, e O Pescador de Ilusões. Certamente se deve a ele este tom que ajuda a dar vida a um filme certamente mais bem realizado e mais bem interpretado do que o rival e anterior. Basta referenciar a 3 grandes do Oscar, que dão peso ao filme, a volta de Emma Thompson (fazendo a super vilã, em papel de certa forma duplo), o sempre digno Jeremy Irons e a Viola Davis (no caso apenas indicada ao Oscar, ainda que varias vezes) que faz o ingrato papel da amiga que explica as coisas e da informações (além de ser vidente e empregada, fato que a atriz exigiu que fosse minimizado).

Como nada é perfeito, tenho problemas com a escolha da dupla central. Nem tanto quanto a menina Alice Englert que fui descobrir é filha da diretora Jane Campion (O Piano). Ela chega ate a convencer como interprete, não tem apenas a beleza e carisma que um papel desses exigiria. Mais grave é o caso do galã Alden Ehrenreich (já substituindo o inglês Jack O´Connell, de This is England e Harry Brown, que foi dispensado logo no começo das filmagens). Ele é baixinho, atarracado, parece um Othon Bastos piorado (só o tipo porque Othon era bonitão e bom ator), interprete limitado (e que já deu errado. Fiquei assustado quando encontrei que ele foi descoberto por Spielberg num bar Mitzvah de um amigo, desculpe mas Steven nunca foi reconhecido pela descoberta de grandes talentos, fez o papel principal no pior filme de Coppola na Argentina (Tetro, só pior ainda parece ser outro que fez depois também com ele, chamado Twixt).

O incrível é que com essa dupla o filme consegue superar uma trama extremamente confusa, cheia de idas e vindas, que tem que explicar um monte de mitologia a que não estamos acostumados. A ação se passa na Louisiana, sul dos EUA, na região onde houve a Guerra Civil. Um rapaz Ethan que perdeu a mãe (não se vê o pai) encontra na escola com Lena, que vem de uma família rica e poderosa (mas também misteriosa, acusada de ser cultuadora de satã), desprezada pelos colegas. O casalzinho se aproxima apesar da oposição dos familiares e aos poucos ficamos sabendo que os Duchannes tem misteriosas relações com forças ocultas, são uma espécie de bruxas ou feiticeiros. O que importa é que ao chegar aos 16 anos, Lena terá que fazer uma escolha definitiva e importante, ficar ao lado das forças do Bem ou Do Mal. E cada um da família puxa para um lado. Para complicar, o casal já se conhecia de outras vidas ou coisa que o valha (tem um medalhão que justifica isso mas não é como a mitologia dos vampiros que estamos cansados de conhecer!). Enfim, tem um personagem que poderia ser bem divertido, com Emy Rossum (Phantom of the Opera), fazendo a prima do Mal (que tem a chance ate de se vestir de Gilda/Rita Hayworth, coisas que os jovens nem suspeitam o que seja...).

O diretor evitou ao máximo o uso de efeitos digitais (aquela mesa que roda com a família presa a ela foi realizada em três dias como parque de diversão para valer, com as meninas amarradas nas cadeiras). Como seu modelo Crepuscular, o filme é entremeado de canções com aspirações a fazer sucesso (a da neve foi cantada num quarto de hotel pela própria Alice). Também tem muitas referencias a livros e poesia (em particular de Charles Bukowski) que é bem vinda e os textos na parede trazem palavras de William Blake, Tennyson, Edna St Vincent Millay e Rumi. A trilha musical é a primeira composta pelo grupo Thenewno 2, de Dhani Harrison (que é filho de George Harrison dos Beatles e por isso foi gravado no famoso Abbey Road in Studio 2), Paul Hicks e Jonathon Sadoff.