Crítica sobre o filme "Argo":

Rubens Ewald Filho
Argo Por Rubens Ewald Filho
| Data: 09/11/2012

Todas as fontes americanas garantem que este é até agora o único filme que tem seu lugar garantido na lista dos finalistas do Oscar. Isso foi comprovado pela sua curiosa carreira nas bilheterias, onde estreou médio e foi crescendo (hoje está com 75 milhões) graças ao boca a boca e o apoio maciço da imprensa.

Este é o terceiro filme como diretor do galã Ben Affleck (que já ganhou Oscar de roteirista por Gênio Indomável, 97), tendo conseguido bons resultados antes com Medo da Verdade (Gone Baby Gone, 2007) e depois com Atração Perigosa (The Town, 10), (para ser bem chato, eu reclamo do vaidoso Ben não ter recusado tirar a camisa para mostrar seus músculos como em novela de TV, isso fica para bem para galãzinho não para diretor que deseja ser levado a sério!).

Mas Ben fez um competente trabalho em  narrar uma história real e quase desconhecida, que mistura tensa política (ainda atual) com sátira a Hollywood no que ela teve em sua história de mais heróico e aventureiro. Eu dei uma olhada no livro escrito pelo agente Tony Mendez (que tem cara de chicano) que realmente participou dos fatos e deu para ver que era um relato direto e pouco literário dos acontecimentos (nos letreiros dos filmes aparecem em fotos todos os verdadeiros envolvidos).

O filme que é um thriller de muito suspense, para mim exagera um pouco na dose, justamente no aeroporto quando o roteiro inventa uma fuga de última hora, com cerco e perseguição (nada disso sucedeu na vida real segundo  o livro e mesmo sair do espaço aéreo levou mais de hora, não foi imediato como parece no filme. Já que fez um filme de tensão, carregou também até o fim. Embora o que mostre é totalmente improvável e até impossível. Mas enfim...).

A história, portanto, é real com alguns toques romanescos de exagero. Antes de tudo o filme faz um resumo da situação na antiga Pérsia, atual Irã. E pela primeira vez em um longa americano, eu vi colocarem o antigo Xá , que era o todo poderoso, pintado como o usurpador do trono e um ditador violento e terrível, que perseguiu os adversários, matou inimigos e espalhou terror!

Apesar de sua fama em revistas por causa das mulheres Soraya e Farah Diba. Quando o derrubaram do poder, ele doente de câncer, se refugiou no antigo aliado, os EUA. Em represália, em 1979, a embaixada americana no Irã foi invadida por militantes que aprisionaram todos os funcionários que estavam no local. Mas seis deles conseguem escapar e procuraram refúgio na embaixada do Canadá.

Esse caso dos prisioneiros na embaixada foi um drama terrível para o governo Carter e um conflito direto com o ditador religioso Komeini. É quando o agente americano Mendez tem uma ideia mirabolante, mas que justamente por isso que poderia dar certo. Um plano absurdo: uma equipe de cinema que iria até o Irã com a desculpa de que estava pesquisando locações para rodar um filme de aventuras ficção científica chamada justamente de Argo (de Argonautas), mas que seria mero pretexto para conseguir embarcar os prisioneiros da embaixada.

O próprio Tony vai para o Irã e tenta realizar esse seu plano, com as reviravoltas e confusões de praxe. Que funciona, justamente, por ser tão improvável. E o pior é que tudo em segredo (só no governo de Clinton é que o feito foi liberado e revelado), ou seja, o filme no fundo é para render as glórias ao pessoal de Hollywood, o especialista em efeitos especiais, o maquiador John Chambers 1923-2001 (vencedor do Oscar) feito por John Goodman e o produtor Lester Siegel (nome inventado), interpretado por Alan Arkin. Ou seja, finalmente um feito de Hollywood não é de mentira.

Seria mentira dizer que Argo não funciona. Tem um roteiro eficiente, com a dose de humor no lugar certo e mantém um suspense permanente. Por outro lado, Affleck é um realizador eficiente (dizem que para criar o clima de época ele cortou as imagens pelo meio para conseguir a imagem granulada que era usada nos anos 70.

Também se inspirou em Todos os Homens do Presidente para as cenas de movimento de câmera e ação em uma sala fechada e nos exteriores de Los Angeles em The Killing of a Chinese Bookie de Cassavetes.

Enfim, o público vai gostar do filme e se divertir com ele.