Crítica sobre o filme "Amor":

Rubens Ewald Filho
Amor Por Rubens Ewald Filho
| Data: 17/01/2013

Confesso que passei a ter maior respeito pelo Oscar deste ano quando soube que a Academia selecionou dentre os finalistas o belo filme independente Beasts of the Southern Wild (Indomável Sonhadora) e principalmente Amor (como atriz Riva, filme, diretor, roteiro e ainda filme estrangeiro).

Vencedor da Palma de Ouro no último Festival de Cannes, Amor  não é um simples divertimento de que a gente pode dizer que gostou ou não gostou. É um filme difícil de assistir porque não facilita em nada para o espectador.

É como a própria vida, por vezes pesada, trágica, assustadora. E como o diretor é o alemão da Bavaria Michael Haneke (A Fita Branca) não espere qualquer concessão romântica ou melodramática. Nem mesmo o choro é permitido como catarse. Ele conta em planos longos e geralmente distantes, a história de um casal de terceira idade, que vive junto num confortável apartamento em Paris.

Estão bem de vida e por enquanto a saúde permite que saiam para assistir concertos. Até um dia em que, de repente a mulher, Anne, fica doente. Nem sabemos qual é a doença, alguma forma de demência, que vai fazendo aquela mulher inteligente perder suas forças, suas habilidades. Nada mais difícil do que ver a pessoa que amamos se deteriorar diante da gente. Essa é a maior prova de amor.

Na primeira cena do filme quando os bombeiros derrubam a porta do quarto já sabemos que o final não será feliz. Aliás, quando temos finais felizes, a não ser no cinema? Não neste filme apropriadamente chamado de Amor.

Uma coisa que impressiona muito em Amor é a escolha do elenco. Nem tanto Isabelle Huppert que faz a filha do casal reencontrando Haneke, com quem já fez outros filmes (como A Pianista), que já sabemos que é maior atriz de sua geração na França. Mas o surpreendente retorno ao cinema de dois grandes atores, quase esquecidos. Emmanuelle Riva (1927) e que se tornou a atriz de maior idade a ser indicada a um Oscar, nunca chegou a ser uma grande estrela, apesar de ter sido a protagonista do inesquecível Hiroshima, mon Amour, de Alain Resnais (1959). Seu amor maior era o teatro e de vez em quando fez alguns filmes (os italianos Kapo, de Pontecorvo e Adua e Suas Companheiras), muitos que nunca chegaram aqui (Therese Desqueiroux, um chamado Longe do Brasil, de 1992). Fazendo a pesquisa a gente se surpreende que na verdade ela rodou muitos filmes, mas que não a souberam valorizar (nem mesmo A Liberdade é Azul, de Kieslowski). Só agora aos 85 anos que tem sua tardia chance de consagração.

O caso de Jean-Louis Trintigant (1930) é um pouco diferente. Ele teve uma carreira plena. Muito jovem em 1956 coestrelou E Deus Criou a Mulher e enfrentou a explosão Brigitte Bardot. Apaixonou-se por ela, foi servir o exército, teria tentado o suicídio. Depois teve uma carreira longa de grandes filmes (138 créditos e mais dois onde revelou talento também como diretor!), foi casado com a diretora Nadine Trintignant, foi o Conformista de Bertolucci (e depois recusou O Ultimo Tango em Paris), Um Homem, uma Mulher, de Leloluch, no Verão Violento, de Zurlini, Ligações Amorosas, de Vadim (baseado no Ligações Perigosas), Aquele que Sabe Viver, com Gassman e Dino Risi, Maravilhosa Angelica, As Corças de Chabrol, Z de Costa Gavras, Minha Noite com Ela, de Eric Rohmer, O Trem com Romy Schneider, Casanova e a Revolução de Scola, e mais Kiewlowski (A Fraternidade é Vermelha), Truffaut (De repente Num Domingo) etc. Em 2003, sua filha bem-sucedida atriz Marie Trintignant (1962-2002) foi assassinada a tapas e socos, com edema cerebral, por seu namorado roqueiro Bertrand Cantat do grupo Noir Désir. O choque foi muito forte e o pai magoado fugiu de tudo e se refugiu no interior, recusou todos os convites. Até este de Amor. Um personagem difícil e corajoso para se expor sem nada de galã. O filme também ganhou o European Film Award filme, direção e atores.

As  premiações são a merecida homenagem a esses dois grandes atores que ate agora ainda não tinham recebido o devido respeito e consagração. Amor entra agora em cartaz e espero que consiga encontrar o público que merece.