Crítica sobre o filme "Para Roma Com Amor":

Rubens Ewald Filho
Para Roma Com Amor Por Rubens Ewald Filho
| Data: 28/06/2012

Já se sabe que não se trata de outra obra-prima como Meia Noite em Paris. Mas nem por isso este novo filme de Woody Allen deixa de ser uma divertida e inteligente comédia, que homenageia o cinema italiano sem cair  nos velhos clichês de imitar Fellini (que Allen já esgotou em outros trabalhos).

Desta vez ele utiliza um velho clichê do cinema europeu e em particular italiano, o filme em episódios. São quatro histórias passadas em Roma (aliás, começa como no trabalho anterior, mostrando paisagens da cidade de Roma em vez de Paris, o filme - afinal de contas - é turístico, só que desta vez os contos são narrados por um guarda de trânsito que fala mal italiano!). E a trilha musical inclui para cada um delas, um tema clássico como Ciribiribin ou Arriverderci Roma.

Francamente eu gostei muito do filme, sem dúvida influenciado pelo fato de ser apaixonado pelo cinema italiano e de descobrir no elenco uma jovem que desconhecia e que me pareceu ter todas as qualidades das estrelas dos anos 60, uma nova Rossana Schiaffino ou Anna Maria Ferrero. Se chama Alessandra Mastronardi.

Já fez muita televisão e aqui interpreta Milly, a jovem do interior que vem com o noivo para Roma, mas se perde na cidade quando insiste em um ir a um cabeleireiro! Depois vai se envolver num pequeno affair com um veterano galã de cinema (a cena do almoço foi feita no verdadeiro Alfredo de Roma) e um ladrão de hotel! Ah, e tem mais, o filme traz também a melhor interpretação da carreira de Roberto Begnini, pela única vez contido e discreto e por isso mesmo engraçado. Difícil de acreditar não é, mas verdadeiro.

To Rome with Love era chamado originalmente de The Bop Decameron, logicamente referencia ao livro Decameron e depois foi mudado para o mais ainda esquisito Nero Fiddled (referencia ao fato de que o imperador Nero tocou em seu instrumento depois de botar fogo na cidade). É o primeiro filme antologia dele em episódios desde Tudo Que Queria Saber Sobre Sexo Mas (depois fez um dos episódios de Contos de Nova York). Também é o primeiro que faz como ator desde Scoop, em 2006.

Como sempre ele utiliza como tema central uma música famosa em arranjo antigo no caso o famoso Volare (Nel Blu Dipinto de Blu), que retorna no final nas escadarias da praça de Espanha (um momento que  me tocou por ser muito italiano!). Há também várias canções de ópera.

Todas as histórias são intercaladas e não separadas. Achei que uma delas teria um tempo limitado, seria a história de um fim de semana apenas, a do casal que vem do interior para ver a possibilidade de morar em Roma, se teriam o apoio da família. Mas para melhor intercalar com  as outras, ele acaba esticando-a (as outras se passariam num período muito maior, mas só técnicos em roteiros serão capazes de perceber a liberdade e o  ligeiro desajuste). Até porque o episódio fica mais divertido quando surge Penélope Cruz, falando por sinal italiano num papel que noutros tempos teria sido da jovem Sophia Loren (o personagem some abruptamente, o que é um erro e uma pena, faltam cenas para torná-la mais memorável).       

Noutro episódio Woody faz um aposentado que trabalha com música clássica e agora chega a Roma com a esposa (Judy) porque a filha (Alison) está noiva de um romano de esquerda. E que tem um pai organizador de funerais, que ele descobre é um grande cantor de opera no chuveiro! Basicamente é uma única piada esticada até a exaustão mas apesar disso engraçada.

A mesma coisa é quando Woody conta outro conto, aproveitando a famosa frase de  Andy Warhol de que no futuro todo mundo será famoso por 15 minutos e famoso por ser famoso! É o que sucede a Benigni, outra vez previsível e repetitivo, mas divertido.

Jesse Eisenberg faz o jovem arquiteto que se apaixona pela melhor amiga da namorada, uma atriz ambiciosa e sedutora (Page, fazendo ao menos algo diferente do que criou em Juno). Mas quem aparece para lhe dar conselhos, de forma meio fantástica é um veterano arquiteto feito (aliás, muito bem) por Alec Baldwin. Os mais atentos irão perceber que Woody está aqui simplesmente reciclando o que já fez ha muito tempo no primeiro longa que estrelou, Sonhos de um Sedutor (1972).

Ou seja, se formos rigorosos teríamos várias objeções. Mas não há porque, ri muito, adorei rever Roma. E aguardar pelo filme que Woody fará em breve com o Rio de Janeiro.