Confesso que tinha certa curiosidade com este novo filme do canadense David Croneneberg, aquele que começou a carreira fazendo fitinhas de horror e foi evoluindo desde um pavoroso (no bom sentido da palavra) A Mosca, antecipado outros cults (Scanners, VideoDrome).
Já em 88, ele é descoberto pela crítica com um filme já muito estranho, mas belo Gêmeos, Mórbida Semelhança. Chegou a ser premiado pela crítica paulistana. Até eu fiquei fã de um diretor tão original que foi conduzindo um caminho próprio e diferente de tudo: Mistérios e Paixões,o incrível e horripilante Crash, eXistenz, Spider. Gostei até dos recentes: Marcas da Vingança, Senhores do Crime e Um Método Perigoso (este último dava um certo medo de vê-lo se tornar o novo James Ivory).
Agora cá está ele novamente navegando águas traiçoeiras num filme que assusta mais do que agrada. Rejeitado em Cannes, é atualmente campeão de gente saindo no meio. Não conheço o livro original de Don De Lillo, mas deve ter sido fiel. Este sim é um filme de estrada , melhor dizendo de rua, porque praticamente todo é uma grande limusine onde o protagonista esta se dirigindo ao salão onde normalmente corta cabelo.
Já foram dadas as melhores oportunidades ao ator Robert Pattinson e a todas reagiu das mesma forma, com indiferença, passividade, aquele olhar de peixe morto.E aqui o filme inteiro é em cima. Se a trama é complexa por trás de uma narrativa aparentemente simples. Os franceses sempre mais esquisitos acham que o filme vem na linha da crise econômica no estilo Wall Street e Margin Call (sem esquecer os documentários) ao mesmo tempo respira um clima apocalíptico (como Take Shelter, Melancolia) porque reflete uma inquietude universal diante do futuro da humanidade.
Enquanto ele faz seu périplo até Wall Street, sua única preocupação é cortar seu cabelo mas vai esbarrando manifestações e uma cidade em ebulição, pra permanecer ileso seu castelo de couro. Quase sempre indolente, cínico, desinteressado. Por mais que seja interrompido por sinais do apocalipse, ele só olha com ternura para a esposa Sara. Mas isso adianta pouco porque o discurso fica nebuloso e tem gente boa que entra e sai dos papos, às vezes sem sentido aparente, irritado com o resultado exasperante.
Não sei se faz diferença mas apenas umas poucas cenas foram feitas em Nova York porque é muito caro rolar lá e as cenas externas mais difíceis foram feitas em Ontario, Canadá e o resto no Pinewood, Studio em Londres. O fato é que é um filme que ele complicou de verdade querendo ser o novo Antonioni (nem longe) ou Lars Von Trier. Vai ver foi isso, eu senti foi falta do verdadeiro Cronenberg.