O cineasta canadense David Cronenberg continua sendo um artista que exige do espectador uma predisposição para certas asperezas de filmar que não se coadunam com as exigências comerciais do cinema. Ainda que nos últimos anos ele se tenha desviado um pouco de suas excentricidades mais radicais, aproximando-se amiúde de uma certa normalidade narrativa, uma obra como Cosmópolis (2012), extraída dum romance de Don DeLillo, acaba enveredando, especialmente em sua parte final no confronto entre o protagonista Eric Packer e a personagem desataviada e brusca vivida por um trêfego Paul Giamatti, por uma dureza brutal de linhas que é o mais puro Cronenberg.
É bem verdade que o cineasta não reedita os engenhos psicológicos de seu filme anterior, Um método perigoso (2011), exibido também este ano em Porto Alegre. Mas é também verdade que Um método perigoso foi malhado pelos cinemaníacos pelos mesmos motivos que enviesam Cosmópolis. Cronenberg estaria cedendo à normalidade do cinema. Pode ser. De qualquer maneira, suas investidas cinematográficas são mais bem vindas do que a maior parte dos filmes que se veem por aí.
O que talvez explique a ligeireza com que Cosmópolis chegue ao circuito comercial seja a presença no elenco de Robert Pattinson, uma coqueluche da juventude que frequenta os cinemas hoje em dia. Este contraste entre o cinema pensado de Cronenberg e a açodada e trivial figura dramática do ator causa uma certa estranheza narrativa em Cosmópolis, causando prejuízos e curiosidades, pois o filme não é de consumo fácil, que seria o caminho de Pattinson.
P.S.: Como curiosidade, o produtor de Cosmópolis é o português Paulo Branco, que desde os anos 80 se tem destacado como produtor de filmes de difícil comercialização, incluindo aí filmes de seu patrício Manoel de Oliveira e do suíço Alain Tanner, dois dos principais nomes de um cinema despojadamente intelectual da história do cinema. Os irônicos inimigos de Branco (que podem ser localizados tanto entre analistas ambíguos quanto entre pessoas que querem do cinema somente o negócio lucrativo financeiramente) usam dizer que ele gosta de jogar dinheiro fora.