Crítica sobre o filme "Além da Estrada":

Eron Duarte Fagundes
Além da Estrada Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 10/09/2011

A experiência buscada pelo realizador Charly Brown na coprodução brasileiro-uruguaia Além da estrada (Por el camino; 2010) é curiosa. Como se fosse uma filmagem do Mercosul, tentando uma identidade própria do extremo sul da América Latina, a realização tenta registrar sentimentos muito próximos da intimidade dos atores para construir as personagens de cena. A espontaneidade e os aspectos caseiros da câmara de filmar ditam a expressão da linguagem cinematográfica. O que falta mesmo é a criatividade duma tensão estética que impeça a desamarração fácil das imagens que se veem; lá pelas tantas a coisa se  arrasta e somos distraídos pela futilidade de filmar.

Não se pode negar que às vezes Braun tem o senso dos contrastas fílmicos para caracterizar o olhar cinematográfico. Quase ao fim, uma sequência de nuvens carregadas e armação de temporal é contraposta a uma sequência de sol e ondas do mar; um corte temporal e espacial bem cinematográfico.

Em cena, o tempo todo, costurando os disparates da ação, Santiago, um jovem argentino, e uma rapariga belga desgarrada no sul da América do Sul, Juliette. Esteban Feuse de Colombi e Jill Muleady compõem com delicadeza e sensualidade contida seus papéis. A negra Naomi Campbell, como ela mesma, é um realce do filme. Para se ter ideia das limitações da realização de Braun, basta pensar num filme brasileiro de intenções assemelhadas, Viajo porque preciso, volto porque te amo (2009), de Marcelo Gomes e Karin Aïmouz, onde a felicidade do tom cinematográfico é um dos achados do cinema recente.