Crítica sobre o filme "Prometheus":

Jorge Saldanha
Prometheus Por Jorge Saldanha
| Data: 26/10/2012

Poucos filmes, na história recente de Hollywood, geraram tanta expectativa como PROMETHEUS (2012), dirigido por Ridley Scott. E não é para menos: o longa marcou o retorno do visionário cineasta ao universo por ele criado no seminal ALIEN - O OITAVO PASSAGEIRO (1979), cuja franquia derivada estava desgastada graças aos medíocres filmes mais recentes, entre os quais os contestados crossovers ALIEN VS. PREDADOR. O hype ficou ainda maior graças à excelente campanha de marketing da Fox, que a certa altura invadiu a internet com uma série de trailers, comerciais, vídeos e sites virais de ótima qualidade. Os primeiros trailers não deixavam dúvidas: com montagem e música semelhantes aos de ALIEN, o espectador seria levado de volta aos mesmos pesadelos materializados na tela há mais de 30 anos.

Com roteiro de Jon Spaihts e Damon Lindelof, o projeto iniciou como um legítimo prelúdio de ALIEN, mas segundo o próprio diretor, acabou tornando-se algo maior e mais ambicioso, envolvendo a busca do Homem por seu Criador (portanto, seguindo uma linha semelhante ao clássico 2001 - UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO,  de Stanley Kubrick). Mas o resultado final, com fortes influências de H. P. Lovecraft e Erich Von Däniken, gerou controvérsias, sendo amado por uns e detestado por outros - reflexo talvez de uma indecisão criativa da produção, que mesmo revisando o roteiro para afastar-se (na realidade, disfarçar) da fórmula de ALIEN, no fundo a seguiu à risca, especialmente em sua parte final.

Além disso o roteiro, propositalmente (?), deixa muitas questões em aberto e mesmo gera certa confusão no espectador menos atento, que poderá pensar que a ação se desenrola no mesmo planeta (ou lua) de ALIEN, LV-426. A confusão é reforçada ao final, quando a personagem de Noomi Rapace grava uma mensagem de perigo, alertando as espaçonaves para que não se aproximem do planeta. Mas este, obviamente, não é o caso, o que também acaba deixando uma impressão de "coincidência forçada" quanto aos eventos ocorridos em LV-223 e LV-426. A única dedução possível é que ameaça que atingiu os Engenheiros (os alienígenas que criaram a humanidade) os acompanhou por diversos mundos. 

Apesar de sua ambição, PROMETHEUS não se envergonha de apelar para alguns clichês típicos dos filmes sci fi de horror, o que acaba prejudicando o impacto pretendido. Destaco, por exemplo, o comportamento estúpido de certos personagens: uns, apesar de cientistas, esquecem por completo as precauções básicas para evitar a contaminação biológica por organismos alienígenas; outro, como em um desenho animado, corre em linha reta e morre esmagado, quando bastaria desviar para um lado para se salvar. E não podemos esquecer do clichê "heroína durona semi-nua" (cuja Ripley do filme de 1979 foi a precursora), que aqui chega ao cúmulo de fazer uma auto-cesariana para, logo em seguida, enfrentar alienígenas a muque. 

Mas apesar das inconsistências, no saldo geral gostei de PROMETHEUS, que em meio à mediocridade reinante pelo menos buscou ser um pouco original e, como é praxe em filmes de Ridley Scott, presenteia o espectador com a grandiosidade audio-visual que os caracterizam. E se você quer pelo menos uma razão para assistir ao filme, aqui está ela: Michael Fassbender. O ator, que muitos gostariam que fosse o sucessor de Daniel Craig como 007, está nada menos que excelente como o androide David. No mais, Scott já anunciou uma continuação (intitulada provisoriamente PARADISE), que dará seguimento à saga dos sobreviventes da nave Prometheus e que fornecerá pelo menos algumas das respostas que faltaram aqui.