É bem provável que quem não entender de beisebol certas passagens mais técnicas ou táticas sobre o jogo possam passar em brancas nuvens ou parecerem até fastidiosas. Talvez quem se debruce sobre o futebol, o esporte brasileiro de massas por excelência (como é o beisebol nos Estados Unidos), possa identificar pontos de contato que o ajudem a compreender os mecanismos narrativos do jogo e do cinema: tanto nas questões técnico-táticas quanto nos aspectos das construções econômicas dos clubes é fácil evocar no beisebol o que acontece no futebol por aqui. No entanto, O homem que mudou o jogo (Moneyball; 2011), filme norte-americano de Bennet Miller, supera suas próprias limitações, para usar da própria armadilha ideológica usada em sua trama (o time pequeno que alça voos maiores que suas pernas), para se transformar numa reflexão cartesiana sobre a paixão de um jogo.
Brad Pitt está oscilante em sua interpretação: como o diretor executivo do clube de beisebol empobrecido que se propõe chegar na frente de clubes mais ricos, Brad ora acerta o tom da emoção cinematográfica, ora se deixa levar por um estrelismo incômodo e artificioso. Secundando tanto sua personagem quanto a ele próprio, a persona de Pitt, Jonah Hill vive um economista formado em Yale pronto para depositar seu saber arabesco no desejo revolucionário da criatura de Pitt; Hill segue Pitt entre a emoção simples e uma certa imposição de astro. Simbolizado nestes dois atores centrais, O homem que mudou o jogo é uma obra cinematográfica irregular. Mas que interessa.