Crítica sobre o filme "Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres":

Eron Duarte Fagundes
Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 06/02/2012

As coisas são cinematograficamente mirabolantes em Millenium — os homens que não amavam as mulheres (The girl with the Dragon Tatto; 2011), o novo filme do norte-americano David Fincher. O cineasta se fia que suas inquietações de produção e seus trejeitos irrequietos de linguagem possam substituir a falta do que dizer em matéria de cinema; talvez somente em A rede social (2010) isto tenha funcionado bem, pois Millenium volta a fazer um filme confuso, pedante em termos de produção e cujos artifícios próximos do ridículo se desmancham facilmente diante dos olhos do espectador assim que ele se desfizer das facilidades sensoriais (muito comerciais) que o realizador impõe com seu método de filmar.

Millenium é um filme de suspense modernoso, caracterizado especialmente na personagem excêntrica da detetive vivida por Rooney Mara, que poderia ser uma opção criativa e perversa da narrativa se, lá pelas tantas, Fincher não transformasse sua lésbica-talismã numa convicta heterrossexual, talvez para satisfazer os aspectos romântico-amanteigados de seu par, o jornalista interpretado por Daniel Craig que investiga o passado duma perturbadora família sueca (que os suecos não são nada fáceis, já se sabia pelos filmes de Ingmar Bergman; Fincher dá sua espiada exótica para este universo). Millenium é bem o contrário de O espião que sabia demais (2011), do sueco Tomas Alfredson, embora ambos caprichem nos recursos de produção; mas no filme de Alfredson há uma elegância de filmar que se afasta da psicodelia esquizofrênica utilizada por Fincher em seu filme. O que aproxima estes dois filmes é essencialmente o naufrágio de suas intenções que oscilam entre o mirabolante formal e uma trama seguidamente excessiva (mais “inteligente” em Alfredson, mais uma rasteira dos sentidos em Fincher).

Não se pode negar que Millenium tem um jeito seu de agarrar o observador; o que pode fazer variar a percepção de cada um é o grau de aceitação que se dê a este agarramento plateia-filme.