Estranhamente este Indochina ganhou o Oscar® de filme em língua não inglesa (foram apenas quatro agora com a exclusão do uruguaio Um Lugar no Mundo). Não há duvida que os membros da Academia, quase todos com idade superior a sessenta anos devem gostar deste melodrama antiquado e lacrimoso, que alguns até compararam a E O Vento Levou. Mas está longe de ser um grande filme. É preciso ter paciência para entrar no ritmo mais lento desta saga romântica que dá um painel do envolvimento colonial da França na antiga Indochina (que depois se tornaria Vietnã).
Rodado em locações autênticas, com orçamento generoso, o filme reconstitui os anos trinta, quando uma mulher francesa (Catherine Deveuve, cinquentona mas ainda bonita) dirige uma das maiores plantações de borracha. Ela tem uma filha adotada indochinês e vive sozinha até quando aparece um jovem oficial da Marinha (Vincent Perez, de Cyrano de Bergerac) visivelmente mais novo que ela. O afortunado rapaz tem primeiro um romance conturbado com Catherine, mas logo se envolve pra valer é com a filha que ele salva de terroristas.
Dali em diante, em meio à vida de um pais em revolução, o filme conta a história desse amor difícil, Catherine logo toma uma posição secundária de observadora (aliás ela tem pouco a fazer, além de aparentar sobriedade e fortaleza, qualidades que uma atriz fria como ela se desembaraça sem problemas). Não há nada que justifique ela ter ganho o Cesar de melhor atriz do ano, muito menos uma indicação para o Oscar. O filme ganha contornos telenovelescos quando Catherine prefere se sacrificar pela filha muito teimosa que resolve ir para junto do amado, que pediu transferência para um remoto e perigoso posto na fronteira. Ela vai à pé conhecendo no caminho todos os problemas de um país em luta. Ela é recruta para trabalhar no campo, mas consegue escapar só para ser presa e vendida como escrava. Mas como é basicamente uma história de amor, o casal se reencontra e eventualmente tem um filho.
O resto não é difícil de adivinhar numa fita que tem contornos de saga até mesmo na conclusão em Genebra. A verdadeira estrela do filme é uma novata desconhecida chamada Linh Dan Pham que sai se muito bem como a filha revolucionária. Ela literalmente rouba o filme de Catherine enquanto alguns coadjuvantes têm suas oportunidades (Dominique Blanc ganhou o Cesar de coadjuvante como a amante do chefe de segurança Jean Yanne). A direção de Regis Wargnier (A Mulher de Minha Vida) é quadrada, mas não incompetente. Ele não permite que o bonito e exótico. Na verdade, este é um filme até comercial, mais indicado para mulheres românticas assistirem nas matinés do que para concorrer a qualquer premiação.