O filme que Wenders fez no intervalo de filmagem de Hammet, na verdade uma briga com o produtor Coppola que exigia uma série de refilmagens. Aborrecido, Wenders foi a Portugal, onde diante de um hotel de pedra, em Sintra, teve vontade de situar ali seu próximo trabalho. Montou uma produção às pressas e passou a rodar durante cinco semanas, utilizando atores e técnicos de Raoul Ruiz (que filmava Le Territoire). O roteiro foi sendo escrito dia-a-dia, em parceria com o norte-americano Robert Kramer (A Tout Allure), deixando os atores improvisarem. Segundo Wenders, este é seu filme mais "noir", de humor. Começa com uma espécie de refilmagem de um "thriller" de ficção-científica, e depois varia entre o horror e a comédia, mas sempre dentro de regras próprias, em território desconhecido. Basicamente o filme aborda um dos assuntos preferidos de Wenders: o próprio cinema. Uma espécie de auto-análise, um acerto de contas consigo mesmo e uma vingança contra Coppola. Começa por ser um filme dentro de um filme. Um humem com um vídeo na mão, filma a paisagem desolada. É um dos sobreviventes de um mundo pós-nuclear. Até que se revela tratar-se de uma filmagem, feita pelo diretor Fritz Munro (chamada "The Survivors", uma refilmagem de The Most Dangerous Man Alive, 61, de Alan Dwan). Aí o verdadeiro filme começa. Extremamente lenta, a fita sem dúvida não é acessível a qualquer público, mesmo com uma inesquecível cena final, mas confirma o talento de Wenders como cineasta original.