Crítica sobre o filme "Casa dos Espíritos, A":

Rubens Ewald Filho
Casa dos Espíritos, A Por Rubens Ewald Filho
| Data: 13/04/2012

Foi reunido um elenco excepcional para o primeiro filme em inglês do diretor dinamarquês Bille August (vendedor por duas vezes da Palma de Ouro em Cannes, Por "Pelle, o Conquistador" e por "Melhores Intenções" baseado em Bergman). Mas também inadequado, praticamente só o espanhol Antonio Banderas (num papel pequeno como o filho de camponeses e líder revolucionário que namora Winona Ryder) e a venezuelana Maria Conchita Alonso (num papel ainda menor, como prostituta amante de Jeremy Irons que o ajuda em momento chave). Não adiantou terem rodado o filme quase inteiramente em Portugal, não ficou com cara de latino. O que sem dúvida deturpa o resultado e explica o porquê de seu fracasso comercial, principalmente nos EUA (onde a crítica também detestou).

O elenco ilustre se reuniu porque todos queriam trabalhar com August ainda mais num projeto de prestigio como este, baseado num livro best-seller, com tons autobiográficos, da chilena Isabel Allende (ela se exilou na America depois da derrubada de seu tio presidente do Chile). O protagonista é inspirado em seu próprio avó e ela seria Winona Ryder, a neta que foi presa e torturada pelo golpe militar. Só que Isabel ao concordar com a adaptação para o cinema, pediu que o diretor não acentuasse o lado místico, o dos fantasmas. Grande erro, já que estaria ali a verdadeira chave do filme, puxando para o realismo fantástico chave do sucesso de "Como Água para Chocolate" (que se tornou o filme estrangeiro de maior êxito em todos os tempos nos EUA). Isso também deixou o filme frio, distanciado. Foi vendo esta fita que cheguei à conclusão definitiva de que não gosto de Jeremy Irons. É um ator sem emoção, especialmente quando compõe tipos. Ele quase compromete o filme começando como um jovem ambicioso que deseja se casar com uma moça de família rica. Faz fortuna em minas, compra uma fazenda no interior, quando volta para casar com ela, esta morre envenenada num atentado ao pai dela (o ótimo Armin Mueller Sthal, a magnífica Vanessa Redgrave faz a mãe). Só que a irmã mais nova dada a crises místicas (tem visões), e achaques (passa anos sem dizer qualquer palavra) gosta dele e os dois acabam se casando (ela vira Meryl Streep). Essa primeira parte é muito interessante ainda que tipicamente européia, com narrativa mais lenta, fotografia elaborada.

Meryl é uma criatura doce que logo se dá bem com a irmã de Irons, feita por Glenn Close (que aliás é a melhor coisa do filme, está perfeita em todas as cenas e arrepiante na sua última aparição na história. Infelizmente some no meio do filme). Esta cria uma ligação até amorosa com ela mas Irons acabou se tornando um rancoroso patrão de terras, que explora os empregados, afasta a esposa, não sabe lidar com a filha. Eventualmente se torna deputado da Situação e apoia o golpe, mas fica sem poder para ajudar a filha envolvida com revolucionário. Na última parte parece filme brasileiro com atores ruins fazendo militares grossos e Irons com uma maquiagem inconvincente (ele tem um tique ridículo com a boca, como se estivesse segurando a dentadura).

A versão americana que eu assisti já não tinha uma cena risível em que Meryl ia procurar a cabeça da mãe que morreu numa explosão. Espero que tenha sido cortado aqui também. De qualquer forma, o filme não vai agradar o público comum, é basicamente fita de arte e merecia lançamento em circuito pequeno onde ficaria muito tempo em cartaz. Ainda assim, com esse elenco e uma boa história não há como não se interessar pela fita. Mesmo que tenha erros fundamentais.