Crítica sobre o filme "Sexo, Amor e Traição":

Rubens Ewald Filho
Sexo, Amor e Traição Por Rubens Ewald Filho
| Data: 28/10/2004

Não foi uma boa idéia querer refazer a comédia mexicana ´´Sexo, Pudor e Lágrimas´´, de Antonio Serrano, que foi campeã de bilheteria por lá mas foi pouco vista aqui. O texto era sem graça, medíocre e distante do atual renascimento do cinema mexicano. Lembrava mesmo aquelas pornochanchadas envergonhadas (porque nem isso chegavam a ser), feitas no Rio nos anos 1970 por Alberto Pieralisi e similares. Mas o remake possibilitou ao menos ser rodado com elenco global e custo baixo, pois basicamente se passa em dois apartamentos cariocas. E o resultado é este ´´Sexo, Amor e Traição´´, estréia na direção de cinema de Jorge Fernando.

Por alguma razão que desconheço, o boca-a-boca do filme era muito ruim, prevendo um desastre. Nem tanto. É uma comédia decente, razoável, que dá para se assistir, ainda que a única pessoa que pareça ganhar com ela seja Fábio Assunção, que se revela muito melhor comediante que galã (na verdade, ele já tinha se saído bem como antigalã em ´´Cristina quer Casar´´). Tem o timing certo, não cai na caricatura, funciona muito bem.

O filme não mudou muito na sua estrutura banal. Faltam planos mais abertos que melhor mostrem o Rio ou mesmo o apartamento dos casais. Ambos tem problemas de cenografia, ou direção de arte, principalmente o de Malu Mader (Ana) e Murilio Benício (Carlos), que parece pequeno por dentro, mas quando mostrado de fora aparenta ser maior e mais bonito. No apartamento de Caco Ciocler (Miguel), seria impossível alguém não ver um casal se escondendo atrás de uma escultura. Bom, mas são coisas da comédia. Deixa pra lá.

O fato é que faltam melhores piadas, situações mais engraçadas. Tudo é mediano. Apesar de ser a protagonista e uma atriz encantadora e charmosa, Malu Mader tem pouco a fazer no papel da fotógrafa casada, ressentida porque o marido não faz sexo com ela há três meses (pois está absorvido escrevendo um livro). Acaba o traindo com um velho amigo (Fábio Assunção), que voltou de viagem e se hospedou na casa deles (embora essa transa seja muito rápida, deixando a heroína com uma moral discutível).

Até aí o triângulo ainda tem certa animação, sobrando para Murilo Beníucio o papel ingrato do marido. Pior é o casal que mora em frente, um publicitário (Caco Ciocler) casado com uma modelo (Alessandra Negrini). Ela tem um trauma no passado (que eventualmente surge) e por isso eles estão prestes a se separar. Para completar o grupo, há a ex-namorada dele, feita por Heloise Périssé, que também não registra tão forte quanto na peça ´´Cócegas´´.

O sexteto briga e passam a morar os homens num apartamento, as mulheres noutro, fazendo ciúmes mutuamente. O elenco conta ainda com duas participações: a de Marcello Antony como um amigo gay (um personagem clichê, desnecessariamente desmunhecado); e a de Betty Faria como a mãe de Murilo Benício, fotografando muito mal.

Há ainda uma trilha musical irritante e intrusiva, num todo imemorável. Sem dúvida melhor, este ´´Sexo, Amor e Traição´´ é melhor do que o horrível ´´Avassaladoras´´, dos mesmos produtores. Porém, não promete ir muito longe. Nos letreiros há cenas não aproveitadas, mas não erros de filmagem.