Crítica sobre o filme "Olga":

Eron Duarte Fagundes
Olga Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 10/03/2005

Ao cineasta Jayme Monjardim não interessa muito compreender os caminhos de uma época em Olga (2004), filme extraído dum livro de Fernando Morais. O que se coloca como objetivo do realizador é desviar o foco da áspera discussão política para um melodrama que envolvesse os dois protagonistas e a filhinha recém-nascida deles: senão, a produção teria muitas dificuldades em recuperar os doze milhões de reais ali investidos; enfim, o cinema como investimento e nunca como uma hipotética arte.

Não deixa de ser constrangedor observar como Monjardim filma a trajetória de personagens como Prestes e Olga à semelhança daquela forma que o hollywoodiano diretor James Cameron utiliza para rodar seu Titanic (1997): alguém pode apontar-me a diferença entre o que acontece aos náufragos apaixonados da fita de Cameron e as facilidades emocionais em que se dissolvem o Prestes e a Olga de Monjardim? As inquietações libertárias de Olga e Prestes são vítimas do naufrágio estético da mão do diretor que fez seu aprendizado na Rede Globo de Televisão.

Uma das declarações instrutivas de Monjardim revela veleidade estilística. Diz ele, sobre seu filme, que prefere planos fechados aos abertos, e isto, afirma ele, seria uma questão de estilo. De fato: os planos fechados do cinema de Monjardim nascem da preguiça televisiva, e, considerando a grandiloqüência duma produção cheia de artificiosos e nada críticos cenários de época, estes planos fechados incomodam. Não são os planos fechados opressivos e devastadores do sueco Ingmar Bergman; são planos fechados vazios e superficiais. Talvez Monjardim quisesse ser capaz de falar dos sentimentos de suas criaturas ao mesmo tempo em que esboçava o retrato de um tempo obscuro; mas falta-lhe o estofo do italiano Luchino Visconti, que sabia como ninguém situar o melodrama dentro duma régua histórica.

A atriz Camila Morgado, em desempenho de fato fascinante, em que personagem e intérprete se influenciam mutuamente, refaz as loucuras interpretativas de Marie Falconetti em A paixão de Joana d’Arc (1928), obra-prima do dinamarquês Carl Theodor Dreyer: daí alguns comentaristas terem equiparado o desenho de Olga por Camila a uma Joana d’Arc contemporânea. Enfim, Olga e Joana foram mulheres diferentes e marcantes, assim como a brasileira Anita Garibaldi, a quem Olga homenageia batizando sua filha de Anita.

Na verdade, o filme de Monjardim e eu não necessitamos um do outro; Olga não verá seu sucesso arranhado por estas desairosas linhas e eu prescindo dos golpes baixos de sua narrativa para seguir perseguindo certas idéias de cinema que teimam em esvoaçar ao redor de meu cérebro.