Crítica sobre o filme "Bicho de Sete Cabeças":

Eron Duarte Fagundes
Bicho de Sete Cabeças Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 27/03/2002

Rodado com uma câmara de 16 mm (depois convertido em 35 mm) em som direto, BICHO DE SETE CABEÇAS, de Laís Bodanzky, apresenta uma agilidade narrativa própria dos filmes de linguagem amadora. A câmara de 16 mm permite uma liberdade de movimentos de câmara e uma leveza formal que a bitola comercial impediria; o som direto confere contundência aos diálogos.

Estas duas características - liberdade formal e contundência das conversas - são necessárias para que a diretora exponha de maneira sem concessões seu tema do tratamento conferido aos pacientes de manicômios no país. Inspirado num livro de Austregesilo Carrano que por sua vez nasceu das experiências do próprio autor, o filme retoma aspectos iconoclastas do cinema marginal adaptados à atual realidade comercial do cinema brasileiro.

As relações desesperadas entre um pai e seu filho, com tudo o que vem de consequência (o manicômio, o afastamento, a incomunicabilidade), formam o miolo da narrativa. Rodrigo Santoro, de galã televisivo, está convertido num verdadeiro ator. Othon Bastos exibe sua experiência e uma desglamurizada Cássia Kiss completa o acerto interpretativo. Sem pasteurizações, mas assumindo sua porção ficcional, BICHO DE SETE CABEÇAS é uma gota de energia num cinema muitas vezes amorfo como o nosso.