Crítica sobre o filme "Vítimas da Tormenta":

Eron Duarte Fagundes
Vítimas da Tormenta Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 06/10/2003

Vítimas da tormenta é seguramente um dos mais belos filmes do italiano Vittorio de Sica, cujo estilo neo-realista de filmar teria, segundo o dicionarista cinematográfico George Sadoul, passado de moda por volta de 1950, por não evoluir. A influência de De Sica no cinema é inquestionável, todavia.

Mais ligado afetivamente às suas personagens e menos a uma visão abrangentemente histórica como aquela de Roberto Rosselini em suas crônicas de guerra, De Sica põe em cena a figura dos meninos engraxates que vivem seus momentos difíceis (especialmente de fome) num reformatório napolitano. Opressivo, cruel, amargo, emocionante, realista: adjetivos que logo saltam ao cérebro de quem se abalança a pensar sobre este grande filme.

As pequenas demências sociais criadas em torno dos garotos criam o paralelo entre a situação miserável destes pequenos indivíduos e a responsabilidade familiar com todo o contexto. A cena de julgamento a que são submetidos os meninos é característica e reveladora: ao serem julgados por seus delitos contra civilidade de normas que rege o reformatório, quem os julga? Amigos, familiares. A trama de ternura e desespero de Vítimas da tormenta seria depois refilmada em alguns instantes em Pixote, a lei do mais fraco (1981), de Hector Babenco; por exemplo, a seqüência do incêndio provocado e o assassinato dum garoto por outra, cena desesperadora e quase apocalíptica.

A despeito de suas intenções sociais, De Sica abre seu filme com um letreiro em que afirma que a ambientação e as personagens são imaginárias. Creio que ele está falando do imaginário neo-realista, de que foi um dos mestres edificadores.