Crítica sobre o filme "Senhor dos Anéis, O - O Retorno do Rei":

Rubens Ewald Filho
Senhor dos Anéis, O - O Retorno do Rei Por Rubens Ewald Filho
| Data: 24/05/2004

Era difícil vencer a maldição do fim de trilogia, que atingiu ´´Guerra nas Estrelas´´, ´´De Volta para o Futuro´´ e até ´´Matrix´´. Todos eles decepcionaram na conclusão. Mas isso não sucede com o terceiro e último ´´O Senhor dos Anéis´´, talvez porque os três filmes tenham sido rodados ao mesmo tempo com uma visão única do diretor Peter Jackson. De qualquer forma, ele não derrapa no capítulo final. Consegue até mesmo fazer um filme mais longo (3h20), mesmo com cortes profundos (muita gente reclama da ausência de Christopher Lee, que será visto apenas na versão estendida e sairá depois em DVD). A saga continua a não cansar. Só tem mesmo um defeito que todos estão apontando: o excesso de finais. Há pelo menos meia dúzia que vão se sucedendo, talvez porque haja muito a costurar. Mesmo assim, incomoda um pouco, principalmente o último desfecho (que é dispensável, já tinham dito tudo antes).

Mas isso é de menos, diante da grandeza da empreitada. Certamente o filme tem toda a chance de ser indicado ao Oscar (como os dois anteriores) e mesmo ganhar (não quero opinar ainda porque não conheço os outros possíveis concorrentes, mas vários deles já ficaram no caminho, como ´´O Último Samurai´´, de Tom Cruise). Mas, ao contrário do que diziam, não há a menor chance de indicação para Viggo Mortensen (que faz relativamente muito pouco).

Na verdade, há duas figuras que marcam esta conclusão. Primeiro, Sam (Sean Astin), que poderia muito bem ser indicado como coadjuvante, já que tem grandes momentos e uma presença irrepreensível. Mas a grande figura do elenco é sem dúvida Gollum (que aqui prefere usar seu nome verdadeiro, Smeagol; aliás, o filme acerta abrindo com a cena em que ele luta pelo anel e aos poucos vai se transformando no monstrengo). Mas se antes a figura criada digitalmente e interpretada por Andy Serkis já era excelente, desta vez consegue ficar ainda melhor. Tremendamente expressivo. E até emocionante (além de ter uma presença fundamental em todo o desenrolar da história). Por sinal, teve muita gente que se emocionou com o filme, até chorando (achei que Jackson forçou um pouco a mão, chegando a puxar um pouco demais pelo sentimental).

Preferi admirar sua competência como realizador em seqüências que eram aguardadas, ou temidas, e que não decepcionam. É excepcional a seqüência da luta contra a aranha, muito mais convincente que algo parecido no segundo ´´Harry Potter´´ (também o bicho é mais bem concebido). É impressionante a participação do Exército dos Mortos, convocados por Aragorn. Jackson utiliza o know-how que adquiriu fazendo o subestimado ´´Os Espíritos´´, de 1996. Naturalmente, as cenas de batalha são espetaculares. Portanto, fica muito pouco a criticar, fora as omissões (justificadas), as explicações (os flashbacks são necessários para relembrar detalhes que um ano depois já não estão tão presentes na cabeça do espectador) e os diversos finais.

O sucesso de ´´O Senhor dos Anéis´´ em condições tão adversas (basta se ver a quantidade de erros e fracassos que Hollywood produz a cada ano), adaptando uma obra tão difícil e monumental, é realmente algo a ser louvado e celebrado. Tanto que certamente os fãs, antigos e novos, ainda vão querer assistir às outras edições (por uns anos ainda teremos filhos dele, até um dia chegar a um único filme unindo os três episódios).

É curioso como se tem menos a dizer quando se gosta de um filme. Malhar é até mais fácil. De qualquer forma, ´´O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei´´ é uma perfeita conclusão para uma grande trilogia.