Crítica sobre o filme "Sabor da Paixão":

Saulo L. Jr
Sabor da Paixão Por Saulo L. Jr
| Data: 20/10/2002

O primeiro filme de língua inglesa em que Penelope Cruz faz o papel principal, interpretando uma chef com talentos mágicos, chamada Isabella Oliveira. Dirigido venezuelana Fina Torres, de "Oriana" (vencedor do prêmio Camera d´Or para diretores estreantes do Festival de Cinema de Cannes), e "Celestial Clockwork" (lançado nos Estados Unidos em 1996, após ganhar vários prêmios), o filme tem como principal ponto a exoticidade do Brasil, de suas mulheres e de sua cozinha, tornando-o digerível para o espectador norteamericano e, para nós brasileiros, um tanto fantasioso e caricato, no legítimo significado da expressão "para gringo ver".

Tentando explicar a escolha de uma atriz espanhola (Penelope Cruz) para interpretar uma personagem tipicamente brasileira, Fina Torres explica que procurava uma Sônia Braga, que aliasse a sensualidade à inocência, afirmando "que precisava de alguém muito sexy e sensual porque as mulheres brasileiras são assim. No entanto, ao mesmo tempo, ela tinha que ser frágil, inocente e delicada. Encontrar todos esses elementos em uma mulher é difícil porque, quando elas são muito sexys, não parecem tão inocentes, ou a inocência soa falso. Quando li o roteiro, disse para mim mesma que a única atriz que conhecia no mundo que poderia fazer isso perfeitamente era Penelope Cruz. Ela tem alguma coisa de Audrey Hepburn misturado com a qualidade sensual da mulher latina. Ela também é muito espiritual - o que é outro elemento-chave da personagem - e sempre elegante".

"Poisé", explicou, mas não convenceu. O Brasil é muito grande e atrizes desta estirpe e qualidade não faltam em todos os cantos do nosso país. Quanto aos diálogos, afirmou a diretora que pelo roteiro original "todos os personagens brasileiros falavam uns com os outros em inglês, o que, para mim, era irreal. A forma como consegui remediar isso foi tornar Mônica a narradora e contar a história através dela. Problema resolvido". Para mi, há muita explicação e pouco conteúdo genuinamente brasileiro neste filme, pois foram poucas as palavras em português que ouvi da boca de Penelope, que quase só falava em inglês.

Por outro lado, tive a oportunidade de ouvir uma baiana, em meio a um ritual religioso de candomblé, falar em inglês. That is incredible! Por estas e outras é que afirmo que este filme exagerou nos clichês da tropicalidade brasileira, tornando caricato o machista Toninho, vagabundos os cancioneiros brasileiros que o acompanham em São Francisco, além de debilóide e cega a crença brasileira nos orixás do candomblé. A única coisa que vale, mesmo, é a trilha sonora.