Foi como uma bomba. Apesar de estar nos planos de Mel Gibson há muitos anos, assim que sua produção começou, trouxe junto uma enxurrada de boatos, expectativas e críticas. Filmes com temática religiosa sempre foram um risco muito grande a ser corrido por qualquer diretor que se preze. Mel Gibson vestiu a camisa e deu a cara a tapa. Na minha opinião, valeu a pena.
O filme recebeu todo tipo de acusação, desde anti-semitismo a violência exagerada. Ora, acusar A Paixão de anti-semitismo seria o mesmo que acusar O Resgate do Soldado Ryan de "anti-germanismo". Há fatos históricos inegáveis, o que também defende o fator "sangue": muitos reclamaram de que há violência e sangue demais... mas alguém ouviu alguma reclamação do gênero sobre filmes como Blade, Kill Bill ou A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça? Se houve, com certeza foi em proporções bem menores. E isso porque estes três exemplos são ficções.
O trabalho mostra uma atuação excelente por parte de todos, em especial Jim Caviezel. Também tem-se uma fotografia de cair o queixo, e uma boa (apesar de inconsistente) trilha sonora. A edição feita nos flashbacks foi muito bem colocada, de modo a surtir reações e emoções diversas no espectador. Vários flashbacks em meio à dita "violência" mostram episódios bíblicos, que só poderiam ser entendidos e reconhecidos por alguém que tenha um mínimo conhecimento do assunto. O versículo de abertura do filme (Isaías 53:5) foi muito bem colocado, bem como o fato de todo o filme ser falado nos idiomas originais da época, ambos extintos: o aramaico (versão aperfeiçoada do hebraico) e latim, dando uma verossimilidade muito maior à história.
O filme, portanto, é um divisor de águas. Não é de se espantar, uma vez que trata das últimas horas de vida de um homem que dividiu a história entre antes e depois de seu nascimento.