Crítica sobre o filme "Mamma Roma":

Carlos Motta
Mamma Roma Por Carlos Motta
| Data: 26/03/2004

Pasolini conta a história de uma prostituta romana, que com o casamento do amante decide recomeçar uma vida honesta, em benefício do único filho,criado por camponeses e que mal a conhece. O filme segue-se na sua filmografia, a Accattone (61). Muitos de seus elementos – marginalismo, prostuição, miséria - retornam neste segundo filme. As ruas escampados, ruínas, fundos de edifícios, as feiras e o lixo são o cenário preciso onde se desenrola um banal e tocante drama, com o sentimento (ou a crueldade ou a amargura), nunca excluído da obra dos grandes diretores do cinema italiano - vide o extraordinário Rocco e Seus Irmãos, de Visconti) do após II Guerra até o fim da década de 50.

O filme de Pasolini se enriquece na medida que o espectador se dá conta de que é também a fantástica contribuição de uma criatura extraordinária, fora de série: Anna Magnani. Uma seqüência é inesquecível. Numa explosão de alegria, as luzes da cidade ao fundo, ela se despede da prostituição, por causa do filho. E vai andando, a câmara avançando para a frente, sem parar. Começa então um verdadeiro desfile de pessoas da periferia romana, que entram e saem de cena, para quem ela vai contando o motivo de sua felicidade. Um quase clímax nesse filme concebidos nos cânones clássicos, diretamente inspirado na seiva popular, sem utilizar nenhum dos padrões estéticos vigentes.

O comentário acima é redução de crítica minha publicada em abril de 1971 em "O Estado de SP". O filme foi lançado no Brasil quase dez anos depois da Itália. Agora reaparece em DVD pela Versátil.