Um cinema da emoção das memórias de infância é o que propõe o realizador italiano Giuseppe Tornatore em Malèna (2000), narrativa de evocação de um homem que na velhice recorda a mulher que mais marcou seus primeiros anos de adolescência, fruto de um desejo nunca materializado. A influência de Federico Fellini sobre o jeito cinematográfico de Tornatore acentua-se na caracterização do advogado que defende Malèna da acusação de corromper um pai de família: gestos largos e caricatos, adjetivação abundante, verdadeiras caretas interpretativas são cacoetes plagiados daquilo que em Fellini é mais profundo e inquietante.
Acadêmico muitas vezes, sensível quase sempre, Tornatore realiza um filme fácil de ver, mas sem o brilho de sua obra anterior, O pianista da lenda do mar (2000). Porém a música imponente de Ennio Morricone não deixa de conferir ritmo sonoro às imagens. Outro dado fundamental é a naturalidade dos intérpretes, desde a sensualidade de Monica Belucci como a esquiva mulher de vida livre Malèna até o menino estreante Giuseppe Sulfaro, bastante longe dos prodígios de artificialidade de Hollywood, o que realça a benfazeja eterna presença dos métodos neo-realistas no cinema italiano.