Irmão Sol, Irmã Lua é o mais estimado dos filmes realizados pelo italiano Franco Zeffirelli, e muitos analistas chegaram a citá-lo em suas referências a obras básicas do cinema realizado nos anos 70. É um exagero certamente, pois, conquanto o filme tenha lá sua capacidade de emocionar e sua beleza narrativa e pictórica, ainda conserva muito das fragilidades do cinema de seu realizador.
O melhor do filme de Zeffirelli é seu pendor documental. A crônica da vida de um santo, algo que ele aprendeu com seus mestres neo-realistas, especialmente o cristão Roberto Rossellini. É claro que a puerilidade de Zeffirelli se distancia bastante da profundidade de Rosselini. Mas a influência é um bom dado para Zeffirelli e sua realização.
A natureza é um elemento de bucólica narrativa em Irmão Sol, Irmã Lua. Guerreiro e filho de comerciante, o cinebiografado de Zeffirelli revoluciona os conceitos religiosos hipócritas de sua época. Esbofeteado por seu pai ao distribuir a riqueza de sua família, humilhado diante da multidão e dum gordo bispo de aldeia (Zeffirelli é suficientemente irônico para retirar os excessos clássicos de seu estilo de filmar), Francisco sai de casa e passa a conviver com os deserdados da sorte, ao frio e à chuva; a ele se juntam outros companheiros.
A magnífica seqüência final em que Francisco se encontra com o Papa em Roma é a coroação de um belo e emotivo filme, com sua superficialidade cristã aflorando, mas ainda hoje bom de ver e aqui e ali capaz de encantar-nos por sua própria ingenuidade.