Crítica sobre o filme "Fantasma da Ópera, O":

Rubens Ewald Filho
Fantasma da Ópera, O Por Rubens Ewald Filho
| Data: 20/01/2005

Falando em direção de arte e cia., vem o caso desta adaptação do famoso musical. Nunca fui admirador do show de Andrew Lloyd Webber, que sempre me pareceu um pastiche ridículo de operetas e grand guignol. Mas o público costuma lotar os teatros (aliás, o musical está sendo montado no Brasil para estrear em abril). Webber foi quem produziu e supervisionou o filme, que ficou sob a direção de Joel Schumacher, que depois de duas fitas de Batman (universalmente ridicularizadas) passou a fazer uns filmes violentos (para as quais descobriu Colin Farrell). Mas no fundo, não passa de um figurinista que acertou no cinema (essa era sua profissão original, e o carinho que tem pelos detalhes nas roupas ficam visíveis no filme. O problema é que, como bom americano, não tem mais noção de bom ou mau-gosto).

Enquanto tudo é mostrado dentro do Teatro de Ópera Popular, o filme parece rico e suntuoso. Mas logo depois cai no kitch, no cafona, no grotesco, como na câmara-leito do Phantom [será que ele quis copiar o filme do Visconti (Ludwig), já que em outra cena de delírio ele não tem vergonha de imitar descaradamente A Bela e a Fera, de Jean Cocteau, com os braços segurando candelabros!].

A história, se é que alguém ainda não conhece, é sobre uma jovem cantora, Christine, que ficou órfã e foi criada nos bastidores da ópera, protegida por um desconhecido que parece um fantasma e que ela pensa ser seu próprio pai. Mas é um compositor frustrado, que teve seu rosto deformado por um incêndio e que vive nos porões do lugar, assustando os donos. Quando uma primadonna (Minnie Driver, numa tentativa de ser alívio cômico, mas num papel pequeno demais para ser marcante) cria caso, Christine tem a chance de estrelar uma ópera e acaba sendo redescoberta pelo namorado de infância Raul, que por acaso é também visconde e benfeitor do lugar (aliás, toda a história é um longo flashback dele velho, relembrando o que sucedeu enquanto se faz um leilão das coisas que sobraram do incêndio da Ópera).

Schumacher acertou no mais difícil, encontrar uma boa menina que cantasse e convencesse como a heroína (Emmy Rossum, de O Dia Depois de Amanhã) ainda que por vezes a dublagem da fita pareça estranha, fora de sincronismo. O galã também é bom, ainda que esteja inexpressivo e prejudicado por um cabelo ridículo (Patrick Wilson, de Angels in America e Alamo). O problema mesmo é ter errado tão feio na escolha do Phantom, chamando um ator escocês pouco conhecido, chamado Gerald Butler (que fez Timeline e o primeiro Lara Croft), que não canta bem, não é bom intérprete e não tem qualquer carisma. Não puxam para o terror e nem conseguem realçar o lado romântico.

Ah, um detalhe importante: o clímax, do candelabro que cai, que na peça me parece ser no final do primeiro ato, agora é no final do filme. Outro problema: com muitos efeitos digitais, o filme lembra bastante Moulin Rouge, só que sem a invenção e criatividade daquele. Acaba ficando cafona, aborrecido, medíocre. Não fez fazendo sucesso de bilheteria e dá para entender porquê. Mas pode pegou três indicação ao Oscar, um dos motivos pelos arranjos musicais vibrantes (onde parecem usar, no mínimo, o dobro dos músicos do palco).