Crítica sobre o filme "Elefante":

Rubens Ewald Filho
Elefante Por Rubens Ewald Filho
| Data: 19/12/2004

Irrita muito essa moda de colocarem títulos nos filmes, que não são explicados nem nos letreiros, nem no contexto. Se não fosse assinado por Gus Van Sant (My Own Private Idaho, Gênio Indomável, Psicose - a refilmagem, Drugstore Cowboy) este filme seria pichado em praça pública e jamais aceito num festival.

Mas esta produção original da HBO acabou misteriosamente ganhando a Palma de Ouro do Festival de Cannes, justamente no ano em que concorriam Invasões Bárbaras, e mesmo Sobre Meninos e Lobos. O filme mesmo premiado chegou a estrear nos EUA em outubro de 2003 e não passou de um milhão e trezentos mil de renda.

A injustiça do prêmio fica ainda mais flagrante agora que já passou o choque dos atentados juvenis em escolas americanas e já vimos Tiros em Columbine.

Não consigo levar a sério Gus Van Sant, para mim um vigarista tão grande quanto David Lynch e com muito menos talento. Ou seja, um enganador. Seu filme tem longas caminhadas e o anterior, Gerry é apenas isso, uma longa caminhada pelo deserto sem explicações (poderiam ser para lembrar um vídeogame mas, na verdade, deve ter sido para esticar a metragem) ao contar, por pontos de vistas diferentes, pessoas que se cruzam, quando dois alunos de uma high school de Portland, resolvem comprar armas e matar os colegas. É um tema previsível e por demais explorado (e muito melhor tratado até no telefilme Bang Bang, Você Morreu, que saiu em DVD). Também importante demais para ser tratado assim com leviandade. Van Sant, que é gay assumido, chega ao cúmulo de insinuar que os dois matadores são influenciados pelo nazismo e transam no chuveiro antes de irem matar (porque são virgens!). Seria muito forte se fosse o oposto, pessoas comuns que chegam ao crime. O filme vai apresentando os personagens se cruzando, a partir de um dos garotos (todos são amadores, improvisaram suas cenas e usam seus nomes reais), que tem problemas com o pai alcoólatra (o único conhecido do elenco, Timothy Bottoms, de A Última Sessão de Cinema, que é sósia do presidente Bush e deve ter sido escolhido por isso). São tipos comuns (uma garota que tem medo de tirar a roupa na ginástica, outro que tem o hobby de fotografar, um casal de namoradas, três adolescentes sem nada na cabeça, etc e tal). Mas tudo é muito mal narrado, cheio de furos (não há segurança na escola, não chega a polícia, em vez de fugir pela janela vão se esconder na geladeira, e assim por diante) e com mínimo de impacto (mal se vê a morte de alguns dos protagonistas).

Acho o filme estúpido da maneira que brinca com assuntos importantes. Diane Keaton assina como produtora. Ah, chama-se Elefante em homenagem a uma série de tevê inglesa do mesmo nome (BBC, 1989) de Alan Clarke, sobre a violência na Irlanda do Norte. O titulo se inspira na frase, Tão fácil como ignorar um elefante que está na nossa sala de jantar. A Palma de Ouro para ele só demonstra como o Festival de Cannes perdeu seu rumo nos últimos anos.