O mais belo filme de Fellini, o mais simples, o mais poético. Ao mesmo tempo também é o menos "felliniano", o menos autobiográfico, com menos tipos caricaturais, menos exageros. As primeiras imagens são em branco e preto e mudas. Aos poucos, o som vai aparecendo, as cores vão surgindo. É como se mostrasse: este também é um filme sobre o cinema. Todo rodado em estúdio (a não ser o começo), o filme ousa mostrar a visão de um encouraçado de guerra obviamente pintado (até mesmo a fumaça) viajando num mar feito de plástico. O roteiro surgiu a partir de uma notícia de jornal onde se contava as cerimônias fúnebres da cantora Maria Callas. Fellini transportou a ação para as vésperas da Primeira Guerra e a bordo também chegam os refugiados de Sérvia. Há uma seqüência brilhante nas caldeiras, quando os cantores se exibem para os operários. Mas nada se compara ao final, mostrado como uma ópera. É através da música, também, que Fellini torna memorável a seqüência do almoço no navio e o concerto da música de Schubert executada nos cristais. Mais uma obra-prima de um grande gênio do cinema.