Os filmes do realizador italiano Mario Monicelli às vezes (ou depende do ângulo de visão) parecem envelhecidos. Há muitos anos, ao assistir a Os companheiros (1963), um Monicelli que fez furor em sua época ao expor a causa operária em cena, tive esta impressão. Agora, ao dar com Casanova 70 (1964), numa versão em dvd, volto a sentir este travo. Não que o filme não possa ser visto sem aborrecimentos: Monicelli tem um apreciável senso de humor, não apela para a vulgaridade corriqueira no cinema de hoje, conta com um Marcello Mastroianni no auge de sua forma interpretativa e o sentido de cinema de Monicelli permanece atual.
Mas o envelhecimento vem da ausência de uma centelha qualquer, que impede que um Fellini, por exemplo, mesmo o mais antigo e datado, atinja mais fortemente o coração do espectador deste princípio de milênio. Mastroianni vive um conquistador de mulheres que tem um mal incompatível com seu fascínio pela fêmea: a impotência sexual. Na verdade, a personagem só se excita quando exposta a perigos: amores proibidos, mulheres casadas. Apesar de contar aparentemente uma só história, os casos expostos como contos fazem do filme uma estrutura semelhante às dos filmes em episódios comuns na época no cinema peninsular, o que torna tudo em Casanova 70 meio desagregado.
Descontados os problemas que desatualizam Casanova 70, a realização de Monicelli merece chegar aos olhos das novas gerações.