Crítica sobre o filme "Brigada 49":

Rubens Ewald Filho
Brigada 49 Por Rubens Ewald Filho
| Data: 02/02/2005

Uma sala vazia, em horário nobre, de sábado à noite, é sempre mau sinal. Como será que o público fareja que o filme não é grande coisa? Ou terá se enganado? Já antipatizo com o letreiro inicial, dizendo que é um filme de Jay Russell, um crédito possessivo e injusto vindo de um sujeito que nem é famoso (o filme anterior dele, Vivendo na Eternidade, saiu aqui direto em vídeo). Depois fico pensando que, após os tristes eventos de 11 de setembro, é difícil alguém fazer algo sobre a profissão de bombeiro sem que ao menos seja altamente laudatório. Ou seja, só se pode falar bem. Mostrá-los como heróis. Sem aprofundar o lado humano da questão. E o roteiro de Lewis Colick (que também fez a vida de Bobby Darin, Beyond the Sea e o ruim Inimigo em Casa, também com Travolta) é um amontoado de clichês, com um final particularmente mal-solucionado, que estraga o possível sentido da fita.

Mesmo tecnicamente o filme é mediano e não se compara com o mais recente que eu lembro do gênero, que é Cortina de Fumaça (Backdraft, 1991) de Ron Howard. Dizem que hoje Hollywood sofre da falta de galãs, de astros que sejam capazes de carregar filmes de ação e que estejam na faixa dos trinta anos. Isso fica mais do que claro na escolha do protagonista. Joaquin Phoenix pode ser um coadjuvante razoável (vide seu imperador louco de Gladiador), mas não serve para herói. Em parte por seus problemas físicos (tem lábio leporino, um ombro deslocado, dentes ruins), mas principalmente por sua falta de empatia. É bom para fazer bandido, não mocinho. Foi uma escolha totalmente errada para o papel. E não ajuda muito a presença de John Travolta como o chefe da estação de bombeiros. Ele é um ator preguiçoso e limitado, que às vezes funciona, quando faz variações de si próprio. Aqui nada acrescenta a um personagem coadjuvante, mas que deveria ter um outro peso, maior presença. A melhor figura da fita é a interessante australiana Jacinda Barrett, que esteve no filme Bridget Jones 2 (era a garota apaixonada por ela), que faz a sofredora esposa do herói.

O filme começa num grande incêndio onde Joaquin, como parte da equipe de busca e salvamento dos bombeiros de Baltimore, consegue tirar um sujeito das chamas na fábrica. Mas depois fica preso no lugar enquanto tentam resgatá-lo, e vão aparecendo os flashbacks mostrando-o desde o primeiro dia de trabalho, as brincadeiras (bobas) dos colegas, seu romance e casamento, depois os filhos (mas nunca justifica porque ele não aceita lugar mais bem pago e menos perigoso). A mensagem (de que são heróis que podem até morrer para salvar a vida de outros) acaba parecendo negativa (ao menos o herói parece um maluco que tem atração pelo perigo e a morte). Pior que é isso é o fato de que é mediocremente realizado (faz falta o widescreen e lentes mais modernas), parecendo mais um banal telefilme, que insiste em querer nos fazer chorar. Dizem que o roteiro original se passava em Nova York (mudou por razões obvias), o governador que aparece é o de verdade do estado (Martin O´Malley) e a fita teve uma indicação a um prêmio menor, Golden Stalitte, que pretende ser rival do Globo de Ouro por sua canção (Shine Your Light, de Robbie Robertson). Não foi mal nos EUA (chegou aos 74 milhões), nem chega a ser tão ruim (apesar de todas as críticas, dá para se assistir sem traumas) para ser tão mal lançado aqui no Brasil.