Tem coisas que Hollywood não faz e devemos agradecer e muito por existir quem faça, principalmente se pensarmos que seria impossível um filme dessa magnitude, realismo e violência sair da terra do cinema. ´Amores Brutos´ (Amores Perros, México, 2000) mostra que o mundo cinematográfico não gira em torno apenas dos Estados Unidos, essa obra de diálogos pesados, violência explicita, que não está no filme para chocar a audiência, e sim para mostrar certas dificuldades reais, e acima de tudo, o amor e a perda.
Essa obra vem do México para o Mundo. Isso é provado nas inúmeras premiações recebidas pelo filme do estreante Alejandro Gonzáles Iñárritu. O retrato sobre vários personagens que tem algo em comum: a perda de alguém querido. A magnitude do roteiro é impressionante, a sua narrativa faz com que os olhos do espectador não pisquem.
Através de um choque entre dois carros se tem início três histórias de amor. Octavio e Susana: um rapaz apaixona-se pela esposa maltratada do seu irmão violento. A segunda história é a de Daniel e Valeria. Uma modelo tem sua vida totalmente mudada depois de sair gravemente ferida do acidente, sem falar que ele largou tudo, sua mulher e suas filhas para esse novo amor. Dor, sofrimento e desespero. Na terceira história nos envolvemos com El Chivo e Maru. El Chivo é um mendigo que havia desistido da família para virar um guerrilheiro e depois de vinte anos começa a perceber que fez a escolha errada e tenta recuperar o amor que ainda tem pela filha.
O ponto forte é a narrativa que faz com que acompanhemos os personagens de pontos de vistas diferentes, tudo bem, isso já foi realizado por Hollywood, mas será que foi tão bem realizado como vemos aqui?
Os cães. Na história de Octavio, o seu mundo gira em torno de cães. Brigas ferozes entre os animais, que faz com que Octavio junte dinheiro para fugir com sua cunhada. Mas os cães estão em todas as três histórias, os cachorros são companheiros, são vitimas e são assassinos. Temos o pobre cão da Valeria e os cães do mendigo El Chivo, os seus amores, amores que abrem a mente dele para o amor por sua filha depois que algo terrível acontece.
Narrativa, violência, e surpresas, isso lembra ninguém menos que Quentin Tarantino. Podemos dizer que ele fez escola. Não tem como não lembrar de Cães de Aluguel e Pulp Fiction. Com uma direção segura, realista, conflitos sociais e econômicos, é um filme autêntico e acima de tudo, corajoso, uma obra de pura qualidade. É o cinema na sua forma mais pura e realista.