Já acusei Omar Sharif de muitas coisas, mas nunca de ser bom ator. Claro que é um homem de charme, elegância, presença, até carisma. Mas talvez até por causa de seu tipo sorumbático, sinistro, ficou limitado a interpretar playboys e árabes (embora tenha sido até oficial nazista em A Noite dos Generais, um dos grandes erros de escolha de elenco de todos os tempos). E com o tempo foi se desinteressando, preferindo o jogo ao cinema.
Seu retorno agora num bom personagem e num filme - que faz tempo ameaçava estrear - Uma Amizade sem Fronteiras - é bem-vindo principalmente porque traz a melhor interpretação de sua carreira, num filme que faltou pouco para ser excepcional. Os elementos estão ali no que parece ser, a adaptação de uma história real.
Um garoto judeu (Pierre Boulanger), já adolescente, que mora numa rua pobre de Paris, onde há muita prostituição. Vive com o pai infeliz, tentando quebrar o galho para sobreviver e fazer a comida de casa.
Por isso, aos poucos vai ficando amigo de um mulçumano, na verdade turco (Sharif) que é o dono de uma lojinha de conveniências como se chama hoje, no bairro. Passa pelos problemas de sempre (a namoradinha que o despreza por outro, a iniciação com uma prostituta simpática), mas aos poucos os dois, apesar das origens diferentes, acabam ficando amigos. Quase pai e filho, de tal maneira que vão juntos numa viagem até a Terra Natal do velho Ibrahim. Sem nunca ser sentimental, o filme tem um final meio melancólico (esperava ao menos que o garoto tivesse um destino mais ambicioso) mas se defende bem, contando uma história humana com algumas curiosidades (como por exemplo, uma aparição de amiga de Isabelle Adjani, que fazia um tipo estrela dos anos 50, meio BB, que rodava cena no bairro). Vale por ver Sharif melhor do que nunca.