Crítica sobre o filme "Mercenários, Os:":

Rubens Ewald Filho
Mercenários, Os: Por Rubens Ewald Filho
| Data: 03/12/2010

Este é o notório filme que deixou o Brasil de má vontade com Stallone por causa das suas infelizes declarações debochando do país em entrevistas (e acumulada pelas dívidas que deixou para O2, co-produtora local, de Fernando Meirelles). Se bem que não é possível, nesta altura do campeonato levar a sério um sujeito que aparece com a cara totalmente deformada a ponto de competir com Mickey Rourke. Com cavanhaque desenhado e sobrancelhas escuras que pretendem deixá-lo com cara de cigano (uma caricatura, melhor dizendo), Stallone não é mais o mesmo.

O roteiro do ator é banal, sua direção básica, seus diálogos muito fracos (carecem de humor e sacadas) e a melhor coisa foi o esforço que fez para reunir quase todos os antigos cúmplices de crime em filmes de ação dos anos 80-90 (de tal forma que o estraga-prazeres parece mesmo ter sido Jean Claude Van Damme, que recusou a aparecer, enquanto Bruce Willis e o governador Arnold demonstram bom humor surgindo juntos numa única sequência e até suportando piadinhas de gosto duvidoso).

O fato é que Os Mercenários não é a catástrofe que se temia. Não passa de uma aventurazinha elementar, rodada em Mangaratiba e no Parque Lage, no Rio, que passam pela residência e arredores de um ditador latino americano (o ator que o interpreta é péssimo e compromete), que planta coca numa pequena ilha, sob o controle de um americano (no caso, Eric Roberts, irmão de Julia, um dos poucos da turma a ter um papel mais sólido). Não há dúvida que o elemento nostalgia tem que estar presente para a gente se divertir identificando os astros de antigamente que hoje habitam as prateleiras das locadoras. Mas Stallone não se preocupou em criar grandes personagens ou situações para eles.

O mais importante seria a estrela atual Jason Statham, que faz o maior parceiro dentre o grupo de mercenários/motoqueiros que se batiza de “os descartáveis”. Ele é o piloto e o mais jovem e ativo do grupo. Quase todos têm pouco a fazer. Jet Li engordou no rosto e sua única luta é muito mal fotografada. Dolph Lundgren faz o mais psicopata e, por isso, venal. Fora isso tem muita explosão, muita correria (a maior parte das lutas é acelerada na montagem) e nenhuma credibilidade.

O Brasil seria então essa ilha tropical aonde chega Stallone e Jason para investigar se aceitam a missão da CIA de derrubar o ditador. Acontece que Stallone se encanta com uma jovem, que depois descobrimos ser justamente a filha do ditador (e interpretada pela brasileira Gisele Itié, que defende bem um personagem clichê). Finalmente, há uma missão de resgate em que derrubam o Castelo Lage (nesse caso, já digitalizado).

Ou seja, é um filme B, de orçamento limitado, que não chega nem perto de blockbusters da temporada e cujo maior prazer mesmo é contemplar os heróis sessentões e admitir como fomos ingênuos em transformá-los em ícones do gênero. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos. REF tem um blog exclusivo no portal R7)