Crítica sobre o filme "Batman - O Cavaleiro das Trevas":

Rubens Ewald Filho
Batman - O Cavaleiro das Trevas Por Rubens Ewald Filho
| Data: 18/04/2008

Esta é provavelmente a melhor adaptação de quadrinhos para o cinema, uma continuação ainda superior a Batman Begins, que já era bom, reunindo a mesma equipe, incluindo diretor e ator, Bale (até mesmo com uma rápida aparição do vilão do filme anterior, Cillian Murphy, o Espantalho) e, como parecia, uma esplêndida interpretação de Heath Ledger como o novo Coringa que - pasmem! - está melhor, e diferente, daquele criado por Jack Nicholson, no Batman original. O ator australiano, falecido em 22 de janeiro de 2008 em conseqüência de overdose de medicamentos, teria ficado perturbado com a profundidade que teria mergulhado num personagem dark e perverso como este Joker, que é um anárquico, um profeta do caos, daqueles que gostam de ver o circo pegar fogo.

O fato é que o ator realmente fez todas as opções corretas, sem nunca cair em exageros ou caretas, fazendo uma maquiagem borrada (desenvolvida por ele mesmo), criando um tom de voz soturno, e mergulhando até o fim na autodestruição. Fala-se numa possível indicação ao Oscar® para ele, e até um prêmio póstumo. Muito possível e até merecido. mas sem dúvida carregado de ironia e tragédia. Heath é o ponto alto de um filme de poucas falhas. Seu maior problema nem chega a ser o fato de ser longo, difícil e pesado. A única coisa que não convence, ao que parece porque o roteiro não desenvolveu as cenas para isso, é a mudança brusca de comportamento do promotor honesto e idealista, feito por Aaron Eckhart que, apesar de ter sofrido perdas, não deveria mudar tanto de lado e atitude (o efeito especial no caso é convincente, sem entrar mais em detalhes). Também perde bastante o filme com a mudança de atriz, já que não temos mais Katie Holmes como Maggie (o que não é explicado), mas em seu lugar a torta e esquisita Maggie Gyllenhaal (mais convincente como comediante e amiga da heroína do que como mocinha).

Mas o importante é que isso não afeta o resultado total, que finalmente faz justiça à figura de Batman, conforme a revisão de Frank Miller. Ou seja, mais do que nunca não é um superherói, não tem superpoderes, é um homem comum (e, por isso, aparece cheio de marcas e cicatrizes, além de ferimentos), que usa sua fortuna e o que há de mais novo em tecnologia, para enfrentar os bandidos que infestam Gotham City (não Nova York aqui, mas Chicago!), que no caso são mafiosos que, ao terem seu dinheiro roubado (e que ficou nas mãos de um bandido de Hong Kong), contratam o Coringa para matar Batman, e livrá-los dos poucos policiais honestos da cidade, liderados pelo Tenente Gordon (Gary Oldman, na interpretação mais discreta de sua carreira, nem por isso menos eficiente) e o promotor Harvey Dent (Aaron Eckhart).

O filme começa com uma seqüência muito forte de assalto a banco, e depois não deixa cair. O diretor Christopher Nolan optou por rodar as quatro seqüências de ação, e outras tantas, pelo sistema de tela gigante Imax (o que lhe dá maior qualidade), e o resultado é impecável. Christian Bale apropriou-se finalmente do personagem de Batman, e utiliza não apenas o Batmobile, mas também uma inovadora motocicleta. O filme é repleto de perseguições, trombadas e lutas, muitas delas feitas da maneira tradicional. Mas o importante é o clima sombrio, soturno, até mesmo trágico da história, muito diferente, até mesmo oposto, daquele criado por Tim Burton e depois exagerado por Joe Schumacher, na quadrilogia original.

É outro tipo de filme, menos heróico, menos idealizado, mas muito rico em sugestões e temas (talvez o mais inteligente deles seja o das bombas colocadas em navios de fugitivos da cidade, vejam para entender). Não sei dizer se o filme, neste estado, é muito comercial, já que não se recomenda para crianças pequenas. Mas, sem dúvida, é o melhor Batman.