Primeiramente devo afirmar que gosto muito de Jason Reitman. O diretor e roteirista, filho do diretor de comédias Ivan Reitman (de Caça Fantasmas e que aqui assume o papel de produtor), consegue expor, com originalidade, temas que não são fáceis de serem debatidos. Foi assim em Obrigado por fumar, Juno e agora em Amor sem Escalas esse drama light que está foi vendido erroneamente no Brasil como uma comédia romântica. Embora não seja um romance, o filme é grandioso, humano, triste e belo, ao retratar a vida de Ryan Bingham, um homem que tem como trabalho demitir pessoas, e por isto fica viajando 270 dias do ano. Ryan adora o seu trabalho, e adora a possibilidade que este lhe dá de viver no ar, porque assim ele não tem que se preocupar com as conexões humanas que a Terra lhe oferece. Quando Ryan tem que ensinar suas técnicas para a jovem Natalie, ela será um ponto fundamental na vida de Ryan. pois não só irá aprender com Ryan mas também irá ensiná-lo muito nas suas viagens. No meio disso tudo Ryan ainda se envolve com Alex, sua versão feminina que esbanja sensualidade e perspicácia e que traça uma conexão com o coração do protagonista. Além disso Ryan ainda tem que tirar fotos para o casamento da irmã, onde a mesma, inspirada por Amélie Poulain e seu gnomo, dá para os convidados uma foto sua e do futuro marido recortada para que eles possam ter lembranças de uma lua de mel o qual não puderam fazer por falta de dinheiro. E se o filme em sua história já é um grande plot, ele consegue ser grandioso justamente por envolver elementos certos em sua produção, onde o relacionamento humano é posto em questão, e a vida de um homem que se isolou emocionalmente vai tornando-se mais verdadeira e emotiva, chegando ao fundo do coração de uma pessoa que se rende às relações terrenas. Dentro desta belíssima história adaptada com primor por Jason e Sheldon Turner, George Clooney nós dá de presente um personagem que é charmoso e melancólico ao mesmo tempo, demonstrando através de suas situações a complexidade de um humano que não consegue estabelecer um relacionamento emotivo com as pessoas ao seu redor. Sem sombra de dúvida é um dos melhores personagens da carreira de Clooney, que estabelece o ponto exato para que possamos conhecer a alma do solitário Ryan. Vera Farmiga também está muito bem como Alex, a versão feminina de Ryan, charmosa mas também sensível em alguns momentos, é ela quem conseguirá estabelecer uma conexão com Ryan e mudar também seu foco de pensamento. Já Anna Kendrick brilha como Natalie, mostrando toda a dificuldade, confusão e inteligência de uma jovem inexperiente que se encontra no meio do turbilhão de emoções o qual seu trabalho envolve. Melanie Linskey também está ótima como a irmã de Ryan que irá se casar, e J.K. Simmons e Zach Galifianakis estão muito bem em suas pequenas participações, como homens que serão demitidos. É fantástico também saber que muitas das pessoas que participam do filme ao serem demitidos, na verdade foram demitidos na vida real, dando seus depoimentos no início e no final do filme. Aliás o final do filme é um dos ápices do longa, mostrando perspicácia e inteligência. A parte técnica do filme também se destaca, seja pela trilha de Rolfe Kent, ou pela direção sintonizada de Jason que se mostra cada vez mais competente e preparado na direção. Para mim, foi grande filme do circuito de premiações 2009/2010 (e por isso mesmo o mais injustiçado, tendo concorrido à 6 Oscar® e não levando nenhum), por ser justamente um longa que consegue chegar ao fundo do coração- e por isso mesmo, ser uma pequena obra-prima.