O primeiro problema é o título, indecifrável, que os produtores obrigaram os distribuidores a manter, e sem tradução! E que não fica claro nem mesmo vendo o filme, o que pode ser um obstáculo para esta segunda aventura de Daniel Craig no papel de James Bond.
O segundo é que o filme começa com incrível potência, numa sucessão de quatro espetaculares cenas de ação, para depois perder o ritmo e se demorar numa exposição longa, até o clímax final. Ou seja, é desequilibrado, principalmente porque já começa em alta velocidade, numa perseguição de carros pelas estradas perigosas do Lago Como, na Itália, seqüência onde, por sinal, houve acidentes com dois stuntmen.
Tudo é feito no estilo da recente série “Bourne”, ou seja, não é mais realizado com truques ou efeitos especiais, mas para valer, com câmera na mão, com o ator se arriscando mesmo. Na pesada. E as cenas são realmente de tirar o fôlego, ainda que não especialmente originais.
Depois disso, vamos entender a trama. O filme começa imediatamente após a história anterior, “Cassino Royale” e Bond ainda está em crise por ter perdido sua amada (desta vez não há aparição de Q, o criador de geringonças para ele usar; ele deixar de consumir os famosos martinis; e só dorme com uma garota que, segundo a tradição da série, logo depois aparece morta, numa citação a “Goldfinger”. Mantém-se o prólogo, os letreiros com canção pop, mas sem muito entusiasmo. No caso, num primeiro dueto, a canção, que me pareceu fraca, “Another Way To Die”, é cantada por Jack White e Alicia Keys).
O fato é que Bond quer descobrir qual é a organização que fazia chantagem com sua falecida amada Vésper, e captura Mr. White. Mas eles sabem muito pouco sobre a organização, e isso força Bond a se evadir, e ir mesmo contra sua chefe M (Judi Dench), por quem, no transcorrer do filme, irá demonstrar surpreendente afeto, chegando a ser suspenso e caçado. Antes, vai para o Haiti (locações no Chile, inclusive no deserto de Antofogasta, Inglaterra, Áustria e Toscana), onde descobre um dos vilões, no caso o francês, Dominic Greene (feito por Mathieu Almaric, o astro de “O Escanfrado e a Borboleta”), e também a mocinha da história, Camilla (a russa Olga Kurylenko), que também está atrás de algum tipo de vingança.
Quando em perigo, Bond convoca o antigo amigo Mathis (Giancarlo Giannini), e vai para a América do Sul, onde há um plano mirabolante de usar a moda da ecologia, do verde, para se ganhar dinheiro, atrás do bem mais precioso de todos, justamente a água potável! Há também um momento curioso quando, em diálogo com o FBI, se levanta o risco de perder a América do Sul para líderes marxistas (e o Brasil vai incluído nesse bolo, com Venezuela e Bolívia. Vamos ver o que Lula vai achar dessa citação!?). Mas ideologias nunca foram o forte da série, que é dirigida agora pelo alemão Marc Foster, que era mais conhecido, até agora, por fitas dramáticas como “O Caçador de Pipas”, “Mais Estranho que a Ficção” ou “Em Busca da Terra do Nunca”.
Ainda que competente não dá para se ver nada de autoral no resultado (ele foi recomendado por Daniel Craig, que era fã de seu trabalho).
Não é uma história de espionagem, e sua origem é uma anedota, que é contada para Bond num dos contos de Ian Fleming (de quem se comemora este ano o aniversário de 100 anos). Segundo o autor, o titulo é definido como ‘uma figura precisa que define o sentimento de conforto/humanidade que é requerido para as pessoas apaixonadas conseguirem sobreviver. Se esse quantum for zero, o amor está morto’. O que, no fundo, pouco tem a ver com o filme, onde o forte não é a história de amor vivido, mas perdido.
Qual a conclusão: dentro da nova linha da série, o filme é forte, bem realizado, com Craig sempre carismático (e já nos acostumamos com as novas características de Bond). Bom, mas sem chegar a ser tão bom quanto o anterior. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 07 de novembro de 2008)