Crítica sobre o filme "Sherlock: 1ª Temporada":

Jorge Saldanha
Sherlock: 1ª Temporada Por Jorge Saldanha
| Data: 04/01/2012
No final de 2009 o diretor Guy Ritchie lançou uma bem sucedida nova versão de Sherlock Holmes, que apesar de situar a ação no mesmo período dos contos originais de Sir Arthur Conan Doyle, trouxe certas modernizações que causaram polêmica entre os fãs do maior detetive da literatura – como mostrá-lo não apenas como mestre da dedução, mas também como um herói de ação especialista em artes marciais. No ano seguinte a BBC lançou esta nova adaptação para a TV com três episódios, que por sua vez tinha tudo para ser considerada uma heresia já que colocou Holmes em plena Londres contemporânea, em meio a celulares e laptops. No entanto, apesar deste detalhe crucial, a nova abordagem do personagem revelou ser muito mais fiel à sua essência do que o filme de Ritchie. Aliás, os méritos do programa não devem surpreender a quem conhece o trabalho prévio dos seus criadores, Steven Moffat (autor do roteiro do TINTIN de Steven Spielberg e Peter Jackson) e Mark Gatiss, egressos de outras produções de qualidade da TV britânica como JEKYLL e DOCTOR WHO.

A série agrada instantaneamente tanto aos fãs tradicionais do detetive como aos novatos em seu universo. Recontando a saga de Sherlock (Benedict Cumberbatch, de DESEJO E REPARAÇÃO) desde o início do seu relacionamento com Watson (Martin Freeman, de O GUIA DO MOCHILEIRO DAS GALÃXIAS), a produção utiliza como ponto de partida os contos originais de Doyle e emprega vários elementos como o estilo visual, a música e mesmo a própria atuação dos atores principais para ser original e vibrante, estabelecendo um estilo próprio mas que sempre respeita e homenageia o material original. Os roteiros baseiam-se sobremaneira na química entre os dois personagens principais, e felizmente ela é aparente desde a sua primeira cena juntos. Curiosamente seus intérpretes estarão em lados opostos em O HOBBIT, que Peter Jackson no momento está rodando na Nova Zelândia: Freeman será o jovem Bilbo Bolseiro, enquanto Cumberbatch fará a voz do dragão Smaug.

O primeiro episódio, “A Mulher de Rosaâ€, nos apresenta Sherlock Holmes como um “sociopata altamente funcionalâ€, e o Dr. John Watson como um veterano do exército que, após ser ferido no Afeganistão, sofre de estresse pós-traumático. Através de um amigo mútuo, os dois passam a dividir o famoso apartamento 221B na Baker Street. Holmes, que age como consultor do inspetor Lestrade (Rupert Graves), da Scotland Yard, na solução de crimes aparentemente insolúveis, adota Watson como seu assistente. O mistério inicial envolve o suicídio de quatro pessoas, e Holmes não demora a descobrir que elas ingeriram veneno graças à ação de um serial killer manipulador. Os outros episódios envolvem uma operação de contrabando (“O Banqueiro Cegoâ€) e uma figura misteriosa que chantageia Holmes com bombas para que ele solucione crimes (“O Grande Jogoâ€). E é neste último que o famoso arquiinimigo de Sherlock, Moriarty, surge em carne e osso. Além de Lestrade, temos personagens recorrentes como o irmão do detetive, Mycroft (interpretado pelo co-criador Mark Gatiss) e a namorada de Watson, Sarah (Zoe Telford).

Cada episódio de SHERLOCK funciona como um filme de 90 minutos, e a maior crítica que pode ser feita à série é que cada temporada possui apenas três deles. Menos mal que a segunda temporada estreia na Inglaterra já neste mês de janeiro, e estará sendo lançada no Brasil em DVD e Blu-ray, pela Log On, ainda no primeiro semestre de 2012, mesmo período em que também sairão por aqui os primeiros DVDs de DOCTOR WHO. Ou seja, nos próximos meses os brasileiros poderão apreciar mais dos talentos da dupla Moffat / Gatiss.