Por Jorge Saldanha
| Data: 18/12/2011
O tempo voa. PULP FICTION – TEMPO DE VIOLÊNCIA (1994) foi lançado há quase 18 anos, mas parece que foi ontem. Após o diretor e roteirista Quentin Tarantino ter estreado de forma arrebatadora com CÃES DE ALUGUEL (1992), seu filme seguinte revelou ser ainda melhor e o consagrou como o maior diretor norte-americano surgido nos anos 1990. O público adorou o filme, os crÃticos o amaram e o roteiro escrito por Roger Avary e pelo próprio Tarantino, inspirado pela literatura conhecida nos EUA como – adivinhe – “Pulp Fiction†(referência à polpa do papel barato das revistas ou livros onde essas obras eram publicadas), levou o Oscar®.
A minoria que não gostou do filme o considerou excessivamente longo, incompreensÃvel (sua narrativa, dividida em capÃtulos ou contos como em KILL BILL, é não-linear, ou seja, não obedece a uma ordem cronológica), mas assim é o cinema “Ame-o ou Deixe-o†de Tarantino. E, até agora, a grande maioria continua a amá-lo. O fato é que em PULP FICTION o diretor atingiu a perfeição de sua fórmula (ainda que o filme, em si, não seja perfeito), onde um eclético e ótimo elenco (com três indicações ao Oscar) passa por algumas situações absurdas, por vezes extremamente violentas, ou então simplesmente se entrega a longos diálogos onde normalmente discutem os mais variados e (ir)relevantes tópicos da cultura pop, cinematográfica e televisiva.
Em suas histórias Tarantino nos apresenta uma visão estilizada do crime de Los Angeles, todas tendo como elo de ligação a dupla de assassinos Vincent (John Travolta) e Jules (Samuel L. Jackson), que trabalham para o gângster Marsellus Wallace (Ving Rhames). Nenhum dos dois aparece no segmento inicial com o casal de ladrões que se chamam, carinhosamente, de “Honey Bunny†e “Pumpkin†(Amanda Plummer e Tim Roth), mas seus destinos se cruzarão no encerramento do filme. Entre esses dois pontos narrativos temos momentos antológicos como a noitada de Vincent com a mulher de Marcellus, Mia (Uma Thurman), que passa pela icônica dança do casal em uma casa noturna onde todos os funcionários são sósias de celebridades do cinema, e termina com Vincent desesperadamente tentando salvar a vida da moça, vÃtima de overdose de cocaÃna, com a ajuda do traficante Lance (Eric Stoltz).
Há também a tragicômica jornada do boxeador decadente Butch (Bruce Willis), que passa a perna em Marsellus e tenta fugir com sua amada francesa Fabienne (a portuguesa Maria de Medeiros), mas o destino o leva a ser aprisionado, juntamente com o gângster, por um trio de homossexuais pervertidos. E, no segmento de maior humor negro do filme, Jules e Vincent, com a ajuda do amigo Jimmie (o próprio Tarantino) e do ultracool Wolf (Harvey Keitel) precisam lavar o carro onde, sem querer, Vincent estourou os miolos de outro sujeito que passou a perna em Marcellus. Em uma corrida contra o tempo, antes que a esposa de Jimmie, Bonnie, chegue em casa, o trio deverá eliminar todos os vestÃgios do crime e se livrar do corpo da vÃtima.
PULP FICTION também é conhecido como o filme que ressuscitou a carreira de John Travolta, que andava relegado a comédias tolas como OLHA QUEM ESTà FALANDO. A sorte de Travolta é que o primeiro escolhido de Tarantino para o papel de Vincent, Michael Madsen, optou trabalhar ao lado de Kevin Costner em WYATT EARP – má escolha Michael! No elenco de apoio quem também dá as caras é o sempre excelente Christopher Walken, em uma curta mas hilária participação como um militar que conta ao então pequeno Butch os “sacrifÃcios†que o pai do garoto, e ele próprio, enfrentaram para entregar-lhe o relógio que passa de pai para filho.
Quase duas décadas após seu lançamento PULP FICTION, que como de hábito conta com uma icônica trilha sonora extraÃda da discoteca do cineasta para acompanhar os diálogos afiados, continua sendo reconhecido como o maior “épico†da carreira de Tarantino – apesar de, pessoalmente, ainda preferir a primeira parte de KILL BILL.