Crítica sobre o Blu-ray "50º Aniversário" do filme "Ben-Hur":

Jorge Saldanha
Ben-Hur Por Jorge Saldanha
| Data: 15/11/2011

BEN-HUR é daqueles filmes obrigatórios na estante de qualquer colecionador que se preze. Já o possuí em todos os formatos de home-video existentes, inclusive em laserdisc, nunca comercializado no Brasil. Aliás, apesar do meu reprodutor de laserdisc não mais funcionar, desta versão nunca irei me desfazer já que sua embalagem, equivalente à de um LP duplo, é muito bonita. O DVD duplo lançado em 2005 pela Warner também foi caprichado, mas não se compara a esta nova edição em Blu-ray, comemorativa aos 50 anos do filme (lançada, portanto, com dois anos de atraso). A apresentação da nossa versão não é tão sofisticada quanto à da norte-americana, que traz os três discos acondicionados em uma caixa maior e com um item colecionável adicional - um livro de capa dura reproduzindo os diários que Charlton Heston começou a escrever na época das filmagens. Aqui, os três BDs estão acondicionados em um estojo Amaray transparente triplo padrão DVD, envolto por uma luva de cartolina que também tem espaço para abrigar um livreto de 64 páginas repleto de imagens em preto e branco e a cores que registram vários aspectos da produção, apresentam os principais integrantes do elenco e o diretor Wyler, e narram a história. Também foram incluídos a campanha de marketing, os prêmios conquistados pelo filme e reproduções de jornais da época. A Warner deve ser parabenizada por, ao invés de simplesmente importar o livro norte-americano, ter feito uma tiragem específica para o nosso mercado, com todos os textos traduzidos para o português.

A exemplo das versões estendidas da trilogia O SENHOR DOS ANÉIS, o filme foi dividido em dois BDs-50 para garantir a máxima qualidade de vídeo e áudio possível (o terceiro BD-50 contém a maior parte dos extras). Para seu lançamento em DVD BEN-HUR já fora remasterizado digitalmente a partir de elementos 65mm restaurados, e a tentação de utilizar a mesma transferência para o Blu-ray deve ter sido grande. Felizmente a Warner decidiu investir em uma nova, cuidadosa e impressionante restauração 8K quadro a quadro dos negativos originais em 65mm, e esta foi a razão pela qual a edição de aniversário atrasou dois anos. Mas o atraso e o investimento de, pelo que consta, Us$ 1 milhão nesta nova restauração / remasterização, a de mais alta definição já feita pela Warner (a maravilhosa restauração de O MANTO SAGRADO pela Paramount, por exemplo, é de “apenas” 6K) valeu a pena: esta nova transferência de BEN-HUR é sem dúvida a melhor de um filme clássico já vista, sendo inclusive superior às de muitos filmes recentes.

A imagem da transferência widescreen anamórfica 1080p/AVC MPEG-4, que emprega o largo aspect ratio original 2.76:1, é simplesmente deslumbrante. O que primeiro chama a atenção, já nos créditos iniciais, é a impecável limpeza da imagem, isenta de qualquer sujeira, ruído ou dano de película. Apenas uma levíssima flutuação de tons ao fundo revela a idade do material original, porém isso não chega a distrair. E quando o filme efetivamente inicia o que vemos é de cair o queixo: os níveis intensos de claridade, profundidade, nitidez e detalhes nos dá a impressão de que ele foi rodado ontem, e não há mais de 50 anos. Ao olharmos para o televisor, parece que estamos enxergando a Roma Antiga, o deserto da Palestina e as ruelas de Jerusalém através de uma janela 16:9. Por incrível que pareça a granulação típica de filmes antigos praticamente inexiste, e apesar disso a imagem não tem aquela aparência filtrada, típica da aplicação de DNR (inexistente), preservando seu caráter fílmico do início ao fim. As cores são brilhantes e vívidas, porém nunca saturadas em demasia. Os tons de pele são sempre naturais e estáveis, e os pretos, ricos e profundos. O elevadíssimo nível de detalhes finos permite que vejamos as mínimas características faciais dos atores, as menores texturas de figurinos, adornos e cenários, os contornos perfeitos de vegetações e paisagens. Essa perfeição toda torna óbvias, muitas vezes, as limitações de pinturas de fundo, miniaturas e recortes inerentes à composição de imagens nas cenas de efeitos visuais, características inerentes à produção. Nada há, contudo, capaz de retirar a nota máxima desta nova transferência de vídeo de BEN-HUR.

Se a imagem do filme em Blu-ray é simplesmente espetacular, a faixa de áudio original em inglês DTS-HD Master Audio 5.1 impressiona menos. Não me entendam mal, para um filme de 52 anos o som é ótimo – dinâmico (dentro das limitações do sound design original), com bons graves e uma separação natural dos canais estéreo. A fidelidade é alta, nos permitindo ouvir claramente sons antes despercebidos. Os graves, principalmente na corrida de quadrigas, são fortes e ajudam a nos colocar no meio da ação. Os diálogos são sempre claros, e não há deficiências típicas de fontes antigas como chiados, estalos e variações de tom. Já os canais surround são usados discretamente, mas com maior proeminência nas cenas da batalha marítima e da corrida, e na reprodução da música de Miklos Rozsa: uma das melhores trilhas sonoras já compostas soa magnífica, com fidelidade e envolvimento surround nunca antes ouvidos. Timbres de metals e cordas são reproduzidos de forma cristalina, e a percussão ganha graves de peso. No geral temos uma faixa de áudio lossless de grande qualidade mas que, ao contrário do vídeo que acompanha, não se iguala ao padrão dos filmes contemporâneos. Bem mais discretas soam as dublagens lossy disponíveis em vários idiomas, entre as quais se inclui o nosso português (Dolby 1.0). Também temos grande variedade de legendas: português (BR e PT), inglês, espanhol, alemão, italiano, holandês, croata, grego, hebreu, húngaro, norueguês, romeno, francês, russo, sueco, tailandês, tcheco, finlandês. Os menus principais (animados) e pop-up estão apenas em inglês.