Crítica sobre o filme "Vencedor, O":

Rubens Ewald Filho
Vencedor, O Por Rubens Ewald Filho
| Data: 25/05/2011

É curioso como certos filmes a gente esquece rapidinho e tem outros que ficam com você. É o caso deste O Vencedor (The Fighter), que está sendo indicado para sete Oscar® nas categorias de melhor filme, direção, montagem, coadjuvantes (Melissa Leo e Christian Bale e mais Amy Adams, roteiro adaptado).

É uma produção pessoal de Mark Wahlberg, que se preparou durante dez anos para fazer o papel do lutador (aliás, já passou até da idade, ficou um pouco velho demais). Como não é muito bom ator teve a generosidade de deixar roubarem a cena, não apenas Bale, mas Melissa Leo e todas as mulheres que fazem as irmãs, algumas profissionais, outras não. É um coro grego brega que dá um tom muito especial ao filme.

Agora parece certo que Bale terá finalmente seu trabalho reconhecido como melhor coadjuvante. Realmente fiquei muito impressionado com o seu trabalho neste filme (ele só não levaria todos os prêmios de sua má reputação de briguento e chato atrapalhasse. É conhecido por seus ataques de nervos xingando todo mundo, por ter batido em sua família que o explorava).

Já fazia tempo que ele merecia um reconhecimento por uma sucessão de bons trabalhos, a que ele se entrega de corpo e alma e devia ter sido lembrado por O Operário (The Machinist, 04), aquele filme em que emagreceu de forma espantosa. Aqui novamente ele perdeu peso para viver um personagem real, ex-lutador de boxe fracassado que tenta treinar seu irmão mais novo com a interferência da família . E com o problema de ser meio bobo e viciado em crack. Nas cenas inicias e finais em particular, ele dá uma entrevista para a televisão (HBO) de forma impressionante (e no final comovedora). No começo fiquei com medo de que ele fosse exagerar, cair no over, mas ele soube matizar. Começa bem grande depois vai ficando mais matizado, mais discreto e humano. Produzido por Darren Arofonowsky (Cisne Negro), o filme traz a marca do estilo que este adotou desde O Lutador, e nem parece ser obra do diretor que o assina, David O. Russell, que até agora tinha feito comédias esquisitas (Três Reis, Procurando Encrenca, Os Huckabees).

Nada preparava para este acerto, principalmente na condução do elenco de apoio, que parece extraído da vida real. Melissa Leo deve ganhar como atriz coadjuvante num ano muito disputado e novamente demonstra sua versatilidade no papel da mãe cafona (ela também esta ótima em Conviction e foi indicada antes por Rio Congelado). Uma pena que tenha que vencer a ótima Amy Adams, que controlou sua natural delicadeza para fazer a namorada de Wahlberg (não se preocupem que logo ela vai rodar a vida de Janis Joplin, que o IMDB diz que será feito por Fernando Meirelles com roteiro de José Eduardo Belmonte).

Esta é a história de um certo Mickey Ward, o irlandês que mora num bairro pobre de Boston e, envolvido pela família, não consegue treinar direito para dar certo como lutador de boxe. Principalmente por causa do irmão, que não é mau caráter, apenas não tem noção de como atrapalha. Auxiliado pela namorada, ele começa a tomar prumo (é curioso como as cenas de luta são mostradas sempre como que apresentadas pela televisão, certamente reproduzindo o que de fato sucedeu em detalhes. Mas é uma maneira diferente de mostrar as velhas lutas de boxe de dezenas de filmes).

Portanto, é uma estética discutível, mas que funciona por causa do elenco, em especial Bale. Quero dizer que mesmo as mulheres, que podem não gostar do gênero, irão se envolver com a história e os personagens.