Crítica sobre o filme "Joana D´Arc":

Eron Duarte Fagundes
Joana D´Arc Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 21/03/2011
Joana d’Arc (Saint Joan; 1957), produção americana, dirigida pelo vienense Otto Preminger, é uma reunião de talentos excepcionais do século XX. O diretor, cuja fanfarronice em vida prejudicou a apreciação de seu cinema, é de fato um dos mais inventivos de seu tempo. A peça que originou o filme foi escrita pelo irlandês George Bernard Shaw, um sarcástico satírico (Preminger, muito bravateiro, dizia que o texto era o maior que já tinha lido, superior mesmo a Shakespeare e à Bíblia). Para amenizar seu ceticismo como cineasta, Preminger deixou o roteiro nas mãos do romancista inglês Graham Greene, cujo catolicismo vai dar à narrativa componentes místicos diferentes daquele rigor semidocumental de outra obra religiosa de Preminger, O cardeal (1963).

Sabe-se que a personagem histórica de Joana d’Arc tem interessado aos cineastas ao longo das décadas: Carl Theodor Dreyer (dinamarquês), Robert Bresson (francês), Roberto Rossellini (italiano), Victor Fleming (americano). Preminger, ajudado pelo texto de Shaw segundo o roteiro de Greene, foge ao confronto estereotipado com aquilo que o precedeu: seu filme parece mais terra-a-terra, sem preocupações transcendentais ou hollywoodianos; na linha de Shaw, Preminger utiliza a trajetória de Joana para simplesmente exercer seu ofício de narrador cinematográfico e aquela coisa das vozes de Joana e de sua percepção das coisas divinas não parecem fantasmagorias nem exercícios metafísicos, são relatos captados quase objetivamente pela câmara.

Jean Seberg, estreando no cinema, oriunda de um concurso da produção, tem o desempenho sofrido e exigido de outras intérpretes de Joana, há uma “maldição de Joana†em cada interpretação que dela fazem. Dizem do espanto de Jean diante do fato de Preminger fazê-la repetir vinte vezes um diálogo comum em nome duma entonação específica: isto dá a medida de certa busca do realizador nem sempre muito compreendida pelos analistas de seu tempo.

Joana d’Arc está longe dos grandes feitos da filmografia de Preminger. Mas seus ajustes fílmicos são pequenas lições que ainda hoje fazem bem a quem curte cinema. (Eron Fagundes)