Por Viviana Ferreira
| Data: 19/03/2011
Dirigido pelo excelente David Fincher (Clube da Luta, O Curioso Caso de Benjamin Button), A rede social foi, durante uma grande parte da temporada de prêmios, o favorito do Oscar® de melhor filme deste ano (que acabou ficando com o magnÃfico O discurso do rei), e, embora não tenha levado a maior estatueta para casa, ele abocanhou 3 Oscar®: Melhor edição, trilha sonora e roteiro adaptado. Este grande projeto no entanto, tinha uma tarefa muito difÃcil- contar a história de Mark Zuckerberg, o gênio inescrupuloso por trás do site de relacionamentos “Facebookâ€, desde a sua criação até a explosão mundial do site, enquanto Zuckerberg enfrentava processos e perdia seu melhor amigo.
No inicio do filme vemos Zuckerberg (Jesse Ensenberg, indicado ao Oscar®), tendo uma discussão afiada com o seu então rolo Érica (Rooney Mara, a futura Lisbeth Salander da trilogia “Milenniumâ€), para que, após ela ter dado um fora nele, ele se vingar através de um aplicativo da internet que a expôs em todo o campus de Harvard. Resta à Mark então a ambição dele mesmo que quer construir algo que mude o mundo, mas mais do que isso, o deixe poderoso. Amigo do rico e antenado Eduardo Saverin (Andrew Garfield, excelente), ele vê sua chance chegar quando os gêmeos Winklevoss (Armie Hammer interpretando os dois) o encomendam um site de relacionamento onde as pessoas pudessem se comunicar e que fosse uma rede de divertimento. Nasce aà o Facebook, onde Mark não entrega este projeto para os gêmeos, toma propriedade do site criado, e convence seu melhor amigo, Eduardo, a investir no projeto. O problema é que depois ele também tira Eduardo da jogada, bem como tira Sean Parker, o criador do “Napster†(interpretado aqui por Justin Timberlake, sem comprometer o filme) o qual ele se alia, da jogada, se o atrapalharem.
É uma historia que fala bem do jogo de poder, o qual o roteirista do filme, Aaron Sorkin conhece bem (afinal, foi ele o criador da série “The west wing†que falava justamente do poder da casa branca) e mexe muito bem com isso. Alias, o grande trunfo do filme é o roteiro, muito difÃcil mas muito bem exposto, onde Sorkin trabalhou com 3 historias em uma só (a criação do Facebook, a amizade de Saverin e Zuckerberg e os processos enfrentados por este) conseguindo desmembrá-las e explicá-las de modo muito claro e definitivo.
Talvez o único problema do filme, seja mostrar esta nossa geração de uma maneira tão pessimista e cruel. Nem todos são tão ambiciosos, sem escrúpulos e egoÃstas quanto Mark Zuckerberg, nem todas as meninas são vulgares, e nem todos os amigos são falsos. Mas o filme, da maneira como é mostrado, divulga uma geração perdida em ganância, onde a inteligência é tão grande quanto a falta de caráter de cada jovem. Talvez por isso, o filme tenha perdido o fôlego no final da temporada de premiações, perdendo o Oscar® principal para um filme que mostra um homem extremamente poderoso, mas também digno como George VI em O discurso do rei. E por mais que seja uma critica bem elaborada
à nossa sociedade atual, generalizar um conceito nunca é positivo, afinal de contas cada ser humano é único em cada particularidade existente em sua essência, e por isso mesmo nem todos erram ou acertam.
O que se pode concluir é que este é um ótimo filme, muito bem elaborado e dirigido (e eu espero agora que futuramente a Academia não premie David Fincher por algum trabalho do qual ele não mereça), mas que se perde na própria mensagem o qual critica, fazendo com que o publico o rejeite, por mais que saiba que este é um grande filme. Ora, como o espectador torcerá por alguém que age de modo tão sujo quanto Zuckerberg? Se isto ocorreu realmente na vida real, não se sabe, mas, nas telas do cinema, a historia da perdição da ambição, não foi inteiramente aprovada. E com razão. (Viviana Ferreira)
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Nos planos iniciais de A rede social (The social network; 2010), o novo filme dirigido por David Fincher, antes mesmo de os créditos preambulares identificarem o filme a que o espectador vai assistir, a câmara mostra, em contraplanos onde os planos se sucedem rápido e fugazmente na tela, o diálogo, num bar, dum jovem casal de namorados. O casal está dissidente e a separação vai ser o desfecho daquela conversa tão ágil quanto espinhosa. As imagens pipocam na tela e também as palavras que saem das bocas das personagens: o cinema de Fischer é assim, mais um estÃmulo aos nossos sentidos (sentir rapidamente o que se passa na tela) do que à nossa capacidade de pensar (embora muitas vezes as personagens pensem e falem muito), daà este artificialismo incômodo de suas narrativas que surpreendentemente em A rede social vem a funcionar com admirável solidez.
A rede social cinebiografa, com criatividade e sem naturalismos vesgos, a trajetória do jovem Mark Zuckerberg, que se tornou milionário ao criar uma das mais buscadas redes sociais contemporâneas por computador, o facebook. Desleixado em suas relações afetivas desde os planos iniciais com a namorada, a vida de Mark é essencialmente virtual: quase não existe fora do mundo dos computadores. O ar de gênio entediado de Mark acompanha todo o filme, evocando (salvas as diferenças essenciais) o tédio dos intelectuais do italiano Michelangelo Antonioni nos anos 60; tipos como Mark são os novos sabichões desta época, substituindo os pedantes literários do século XX. Assim, A rede social não deixa de ser o exÃmio retrato de nosso tempo, fonte cinematográfica de pesquisa para as gerações futuras que quiserem saber como agÃamos, pensávamos ou nos relacionávamos uns com os outros.
Na sequência final de A rede social Mark está diante do computador buscando contato com sua namorada, aquela com quem brigou no começo do filme, antes de mergulhar em suas travessuras de internauta. Talvez seja a indicação de Fincher de que o gênio, ainda imerso em seus artifÃcios pessoais, necessita de humanidade para seguir em frente: a garota é a humanidade de Mark.
As caracterÃsticas pipocantes dos planos que abrem A rede social vão acompanhar todo o ritmo do filme. A natureza dos diálogos também. Como Nome próprio (2008), do brasileiro Murilo Salles, A rede social transforma a internet numa personagem cinematográfica aguda. (Eron Fagundes)