Por Rubens Ewald Filho
| Data: 10/01/2011
Apesar de funcionar independentemente como uma comédia original e especialmente eficiente, O Pior Trabalho do Mundo fará mais sucesso entre aqueles que conhecem o filme antecessor do diretor Nicholas Stoller. A estreia do cineasta, Ressaca do Amor foi uma deliciosa comédia romântica que invertia a fórmula habitual do gênero. No filme, o personagem de Jason Segel leva um fora da atriz renomada interpretada por Kristen Bell, que logo se vê envolvida com o astro do rock Aldous Snow (Russell Brand). Aldous, que roubava todas as cenas em Ressaca do Amor, é o epicentro de O Pior Trabalho do Mundo, que é praticamente um filme só seu.
Aldous divide o filme com Aaron Green (Jonah Hill), um aspirante na indústria fonográfica que trabalha para um grande selo. Fã da lenda do rock Aldous Snow – que, após um fracassado e vergonhoso álbum, sumiu do mapa – se vê fazendo uma louca sugestão quando seu chefe Sergio Roma (Sean Combs) pede inspiração de seus empregados para superar a crise que a indústria vem sofrendo: reviver a carreira de Aldous com um show comemorativo no Greek Theatre. Sergio apóia a idéia, mas coloca Aaron na árdua tarefa de transportar o astro de Londres até Los Angeles.
Em muitos sentidos, O Pior Trabalho do Mundo é um excelente filme sobre a indústria da música. Logo em seus primeiros minutos, satiriza, referencia e critica diversos âmbitos que vão desde tablóides sensacionalistas aos próprios “artistas†contemporâneos. O roteiro explora amplamente os galhos da cultura pop, com referências que vão do tablóide sujo TMZ à revista Rolling Stone, do You Tube à MTV. Tudo isso ao retratar a fama (e o posterior fracasso) de Aldous Snow, um astro que, apesar de fugir totalmente do convencional, consegue espelhar toda uma geração.
A direção inspirada nos envolve em um clima constantemente divertido e ágil, em que o destaque não são as piadas sujas e óbvias, mas o que há subentendido. Como no impagável momento em que, retratando uma brusca mudança no tempo, o filme nos apresenta à uma particularmente suja música do Aldous apenas para posteriormente escutarmos ela em uma versão editada e alternativa saindo da rádio. É uma bela sÃntese da contemporaneidade musical, que ainda é beneficiada por diálogos que exploram o que é, na verdade, boa música? E se o que é bom é o que necessariamente faz sucesso. Tudo isso apenas em sua primeira meia hora, vale dizer. O longa-metragem neste meio tempo nos arrebata com maravilhosa trilha sonora e referências fantásticas a filmes como Jerry Maguire e Pulp Fiction.
A obra, porém, não teria funcionado tão bem – e se segurado por longas duas horas de duração – sem bons personagens. E, acompanhado o já querido Aldous Snow – que é um personagem extremamente engraçado, enriquecido pela essencial performance de Brand – temos a ingenuidade afável de Aaron Green na pele do também bastante divertido Jonah Hill, que cresceu muito desde Superbad. A relação entre os dois não se resume à simples fatores, evoluindo ao longo da metragem de forma bem original. Então, quando o filme começa a se aproximar do território mais previsÃvel, com direito à algumas lições de moral esperadas, tudo acaba soando incrivelmente orgânico e real. Isso por causa do talento dos atores e pela maneira como os personagens conseguiram crescer ao longo da história.
Mais do que qualquer coisa, O Pior Trabalho do Mundo é, simplesmente, engraçado. E, ultimamente, é muito difÃcil encontrar uma comédia que realmente cumpra esta obrigação. Os personagens secundários são infalÃveis, de um inesperadamente divertido Sean Combs à uma surpreendentemente hilária Rose Byrne (cuja veia cômica até então permanecia inexplorada). E, claro, a excelente Elisabeth Moss no que talvez seja seu primeiro papel realmente valioso no Cinema. São atuações que mesclam em personagens divertidos, que por sua vez povoam uma narrativa deliciosa e charmosa. Por mais que existem os exageros e os lugares comuns quase inevitáveis, este longa-metragem é uma pérola e certamente merece ser descoberto por todos os amantes de boas comédias e rock ‘n’ roll. (Wally Soares)
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Ficou inédita em nossos cinemas esta comédia, que foi produzida por Jud Apatow, e dirigida pelo habitualmente roteirista Stoller (Escorregando Para a Glória). Na verdade é um spin off, uma espécie de continuação da comédia Ressaca de Amor, claro que do mesmo diretor, resgatando dois personagens secundários daquele filme, o astro do rock e drogado Aldous Snow (Russell Brand) e o agora executivo da indústria do disco, portanto falida, Matthew, então garçom (Jonah Hill, de Cyrus), agora chamado Aaron Green.
É preciso entender um pouco do mundo rock e da indústria de discos para ajudar mais graça nesta chanchada rasgada, com piadas explorando drogas e momentos de grossura (como esconder droga no traseiro). É basicamente uma única piada que se repete, Aaron tentando trazer o roqueiro para o show e ele fugindo, caindo cada vez (e outra vez) na farra e na orgia, carregando o gordinho junto. Uma paródia do mundo do rock para quem entende e gosta, menos inovadora do que outras de Apatow. Mas ao menos Brand é um ator carismático e eficiente, sendo que a dupla chega a funcionar. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos. Rubens tem um blog exclusivo no portal R7)