Por Viviana Ferreira
| Data: 21/10/2010
Na primeira vez que ouvi falar de "Bright Star" foi por causa de Ben Whishaw, um dos meus atores favoritos que me conquistou com sua interpretação em Perfume, Não Estou Lá e Brideshead Revisited... Ben, alto mas franzino, vive aqui John Keats, da maneira mais romântica, verdadeira e artÃstica possÃvel. Deve-se entender que O brilho de uma Paixão não é uma biografia do famoso poeta inglês, e sim a história verdadeira do romance entre o mesmo e Fanny Brawne (Abbey Cornish, fantástica), jovem de famÃlia de boas condições famosa por ser estilista (algo precursor para a época) se encanta ao primeiro olhar por Keats e, tornando-se sua discÃpula, apaixona-se perdidamente por ele, sendo ambos protagonistas de uma historia que claro, não terá um final feliz (já que todos sabem da saúde sensÃvel do poeta, que adoece muito jovem). Entre as rusgas dos jovens amantes encontra-se apenas o amigo de Keats - Mr. Brown (Paul Schneider, ótimo) implicante ao extremo com a jovem, e ciumento em relação ao amigo o qual acolhe.
Mas devo lembrar que o filme é, antes de tudo, uma declaração de amor à arte. À música, à poesia, à dança, ao “fashionismoâ€, ao amor... e através da beleza da fotografia assustadora de Greig Fraser (injustiçadÃssimo ao não ser nem indicado ao Oscar®), conseguimos enxergar o mundo de Keats e Brawne de uma maneira mais doce, suave e harmônica, onde borboletas voam através das palavras românticas do poeta, e a música transpira em salões de festa. Pra mim, pessoalmente, é o melhor longa de Campion, que consegue ser certeira e emotiva, captando toda a beleza de uma paixão na juventude...o elenco também é fantástico, onde Whishaw e Cornish atuam no mesmo nÃvel notório de inspiração. E se a presença de Kerry Fox é um presente para o filme, Schneider brilha em um papel totalmente antipático. Na parte técnica, além da fotografia absurdamente perfeita, a trilha de Marc Bradshaw é perfeita e original e os figurinos de Janet Patterson são mágicos (e é absurdo que a mesma só tenha sido convidada para fazer parte da academia neste ano, quando acumulou sua quarta indicação).
É um filme magnÃfico, que entra no rol não só como um dos melhores de 2009, mas também pra mim um dos melhores de todos os filmes que já vi na minha vida. Belo e puro, O Brilho de uma Paixão chega aonde todas as obras-primas conseguem chegar: no fundo dos nossos corações. (Viviana Ferreira)
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Finalmente a realizadora neozelandesa Jane Campion chegou à sua gravura de época, que seu estilo de filmar literário e bonito persegue sempre. Brilho de uma paixão (Bright star; 2009) usa a desculpa da personalidade estética do poeta inglês John Keats (1795-1821) para exercitar e exacerbar este gosto de Campion por gravuras do tempo, resultando em algo estático e, assim como está na narrativa, muito pouco cinematográfico.
Keats é um dos nomes básicos do romantismo britânico que vicejou nos primórdios do século XIX e, como ocorria com muitos melancólicos poetas do mundo todo naqueles anos, morreu de tuberculose muito novo, aos vinte e cinco anos. O sensual romântico das imagens evocadas pelos versos de Keats são todavia expressos num rigor poético pré-parnasiano, caracterizando uma linguagem única, estilizada, aguda e profunda. Aqueles versos de “Ode to a nightingale†(1920), recitados por Ben Whishaw (o intérprete de Keats) durante os créditos finais, são brevemente aludidos por um dos sinuosos e elaborados diálogos do romance “Os europeus†(1878), do norte-americano Henry James. O famigerado: “Mid-May’s Eldest Child!â€. Campion se vale da exuberância de Keats constantemente: seu filme é uma reverência ao grande poeta, mas o funcionamento fÃlmico rareia.
Brilho de uma paixão usa e abusa do talento poético de Keats (o diretor brasileiro Sylvio Back fez isto há alguns anos com o nosso poeta simbolista Cruz e Sousa, porém de uma forma mais documental-experimental), mas desvia excessivamente seu foco para o caso sentimental com Fanny Brawne, misturando a morbidez do estado de saúde de Keats com o enlace amoroso com concessões a um melodrama anacrônico de maneira um tanto quanto irregular.
Não se pode descartar um certo brilho estético-metafÃsico de Brilho de uma paixão. Mas é insuficiente para transmitir energia ao vaivém novecentista tão ao gosto da cineasta. (Eron Fagundes)