Crtica sobre o filme "Corações Desesperados":

Eron Duarte Fagundes
Corações Desesperados Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 09/09/2010
O cineasta norte-americano Jules Dassin viveu quase cem anos. Faleceu em março de 2008, em Atenas, tendo adquirido a cidadania grega, fruto de viver muitos anos na Grécia e de seu longo relacionamento com a atriz helênica Melina Mercouri, morta em 1994. Melina é o centro narrativo de Corações desesperados (10.30 P.M. Summer; 1966), filme de Dassin extraído da novela Dix heures et demie du soir em été (1960), da francesa Marguerite Duras, famosa por seu texto para Hiroshima, meu amor (1959), obra-prima do francês Alain Resnais que revolucionou alguns conceitos cinematográficos (mas Duras também realizou alguns filmes perturbadoramente novos como Índia song,1975).

Em Corações desesperados Melina interpreta Maria, uma grega casada com um inglês, Paul, vivido por Peter Finch, em viagem pela Espanha; junto ao casal, uma amiga de ambos, a francesa Claire (na pele deslumbrante de Romy Schneider), que vem a flertar com Paul e até a criar insinuações lésbicas com Maria, tudo dentro duma complexidade psicológica característica de Duras. Quando o triângulo chega à Espanha, dá com a notícia de que um marido assassinou a esposa e o amante dela; este marido que se escapole da polícia desperta o interesse de Maria, compondo um outro labirinto mental que mistura introspecção com sinuosidades oníricas de movimentos de câmara.

Reprova-se a Corações desesperados algumas formas arrastadas de encenação, mas não se pode descaracterizar as tensões que a direção de Dassin extrai do trio interpretativo central e do roteiro escrito pelo próprio Dassin em colaboração de Duras. Embora se situe bastante longe das obras marcantes de Dassin, como Brutalidade (1947) e Cidade nua (1948), Corações desesperados é uma boa amostra do talento narrativo de Dassin, muito influenciado pelo cinema intelectual europeu dos anos 60. (Eron Fagundes)