Crítica sobre o filme "Fúria de Titãs":

Jorge Saldanha
Fúria de Titãs Por Jorge Saldanha
| Data: 03/09/2010
Sou um grande admirador da obra de Ray Harryhausen, um dos maiores nomes da técnica de animação stop motion da história do cinema. Mesmo não sendo creditado como diretor em nenhum dos seus filmes, todas as sequências de efeitos visuais eram elaboradas por ele, mesmo as tomadas com atores nas quais posteriormente seriam inseridas suas criaturas animadas quadro-a-quadro. Portanto, foi com apreensão que recebi a notícia de que seu último filme, FÚRIA DE TITÃS (CLASH OF THE TITANS, 1981), seria refilmado pela Warner. As opiniões após o lançamento da nova versão pareciam confirmar meus temores. Pela internet pipocaram críticas negativas, e foi com um pouco de surpresa que, via de regra, nelas os autores declaravam seu amor pelo original, para eles um clássico de suas infâncias ou das sessões da tarde. Surpreendi-me porque, apesar do longa original ter um orçamento maior que o normal para as produções de Harryhausen, e de contar no elenco com um grande nome como Laurence Olivier, ele também não foi bem recebido pela crítica e pelo público. Infantil demais para os adultos (graças principalmente à presença da coruja mecânica Bubo), arrastado demais para as crianças e com um ator ruim interpretando Perseu (Harry Hamlin), o filme não é das melhores obras da carreira do Mestre.

Finalmente a refilmagem estreou aqui, e optei por assisti-la em cópia convencional, já que outro ponto comum nas resenhas era de que a cópia 3D (o filme foi rodado em 2D, mas para aproveitar a onda de AVATAR foi convertido às pressas) era péssima. Sem esse problema, com cinco minutos de projeção percebi que o filme não poderia ser tão ruim como disseram, e ao final isso se confirmou. Com ótimos valores de produção, um elenco de peso onde até mesmo o criticado Sam Worthington está bem (se não gostaram dele como Perseu, o que se dirá de Harry Hamlin?) e um ritmo ágil, esta é daquelas raras refilmagens superiores ao original em quase todos os aspectos. As criaturas feitas em computação gráfica, apesar de não terem o charme das criadas por Harryhausen, são impressionantes, e a trilha de Ramin Djawadi é, sem dúvida, seu melhor trabalho até agora. Além disso, há as referências e homenagens à obra original, que incluem uma piada que Leterrier fez com Bubo - o diretor sabia que a coruja foi uma imposição do estúdio para atrair as crianças.

Mas o longa de Louis Leterrier (competente diretor de filmes de ação como o primeiro CARGA EXPLOSIVA e O INCRÃVEL HULK), ao colocar Io (Gemma Arterton) como o interesse romântico de Perseu no lugar de Andrômeda (Alexa Davalos), faz com que a grande busca do herói por uma arma capaz de destruir o monstro Kraken e salvar a princesa de Argos perca força. Se antes a odisseia do semideus Perseu era uma épica aventura romântica, ela agora tornou-se uma não muito nobre vingança pessoal contra os deuses, principalmente Hades (Ralph Fiennes), responsável pela morte de seus pais adotivos. Abordagem adequada ao novo filme, mais sombrio e sério, mas que o enfraquece como a obra tradicional que, apesar dos avanços tecnológicos que traz, de fato é. De qualquer modo, como aventura descompromissada - como eram os hoje “clássicos da sessão da tarde†- este FÚRIA DE TITÃS cumpre bem sua função e certamente, longe dos borrões de uma conversão 3D malfeita, poderá ser melhor apreciado, principalmente na alta definição do Blu-ray.